Por
Milton Rezende
nascia comigo
o oposto de mim.
Assim tenho dois nomes
que simbolicamente constituem
dois inimigos entre si.
Para caracterizar dois pólos
não é preciso enumerar os opostos
e nem as subdivisões ocorridas
através de concessões bilaterais
para se chegar a um entendimento.
O certo é que esse antagonismo
cristalizou-se no relacionamento,
aniquilando todas as tentativas
de integração entre as partes.
O diabo do outro sempre me negou
contradisse-me em público
desmentiu minhas verdades
impediu-me as atitudes
e por fim desmanchou meu casamento.
Aí então fiquei louco
e fui recolhido num hospício
onde me perdi eu mesmo num labirinto
de mentiras e desvairismo,
até que me matei.
E não é que o outro foi ao enterro,
carregou meu caixão e se riu de mim?
Mas depois ele também morreu
e ainda hoje estamos em conflito aberto.
Coisa que, se não traz as vantagens
do perdão pela unidade aparente,
pelo menos impede nosso julgamento
e nos livra do fogo interno/eterno
concedido aos que se pretendem coerentes.
e fui recolhido num hospício
onde me perdi eu mesmo num labirinto
de mentiras e desvairismo,
até que me matei.
E não é que o outro foi ao enterro,
carregou meu caixão e se riu de mim?
Mas depois ele também morreu
e ainda hoje estamos em conflito aberto.
Coisa que, se não traz as vantagens
do perdão pela unidade aparente,
pelo menos impede nosso julgamento
e nos livra do fogo interno/eterno
concedido aos que se pretendem coerentes.
Do
livro O Acaso das Manhãs
Milton Rezende, poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 1962.
Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na
UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público
aposentado, morou em Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP).
Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quinze livros publicados. Tem
um site e um blog.
Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).