16 de jul. de 2025

‘Os ratos vão para o céu?’, de Vitor Miranda

 

Nestes contos sobre a infância, Vitor toca em pontos que fogem da própria psicanálise. Trabalhado num texto de conceitos poundianos, misturado com a comunicação dinâmica de nossos dias, seu característico humor sarcástico e uma pitada de realismo fantástico, relata uma espécie de distopia neurolinguística. Mexe em lugares muito perigosos da mente humana. Um bebê na primeira palavra deixa de dizer pai ou mãe, para dizer Google. A deturpação da retina do narrador ganha destaque nesse livro, que é o seu mais radical. Nos faz deixar de achar absurdo a possibilidade de engravidar de um sapo depois de engolirmos tanto sapo na vida. Vitor pega pesado em sua literatura. O livro é absurdamente provocador. Escancara como nós somos assassinos. Depois dos poemas de Exátomos (seu livro anterior) nos mostrar que pioramos, Os ratos vão para o céu? Mostra a crueldade das crianças. Quem escreveu esse livro de contos foi a sua criança mais revoltada. Acima de tudo, Miranda escreveu um dos livros mais políticos dessa geração ao nos colocar de frente para a tortura de nossas infâncias que um dia chamamos de futuro da nação. 

Prefácio na ratoeira, por Xico Sá 

Estava terminando a milésima releitura de Ratos e homens, escrito em 1937 pelo phodástico John Steinbeck, quando me chegou o original encadernado do livro-pergunta de Vitor Miranda. Os roedores amam literatura como apreciam queijos de todos os tipos e origens. A literatura retribui esse estranho amor: Os ratos (Dyonélio Machado) e O riso dos ratos (Joca Reiners Terron), sem se falar no barulho dos ratos nos armários de Angústia (Graciliano Ramos). 

Os ratos vão para o céu?, de Vitor Miranda, nos devolve os roedores em um momento atordoado da infância. Um ratinho cobaia da nossa eterna falta de humanidade. Terá salvação? Existe o paraíso dos roedores para aplacar a nossa culpa? Semeio mais interrogações nesse campo minado. 

Este livro está repleto de assombros que reverberam lá do começo da vida. Os assombros que ficam para sempre. E viram ficção, conto, sapo ou fábula. O autor tira o melhor dos proveitos. Os fantasmas agradecem ao fabulário geral aqui descrito. Os fantasmas, como os ratos, preferem literatura à terapia ou psicanálise. 

Os pesadelos crescem e ficam adultos. Eles ainda estão aqui, junto com ratos, medos, interrogações e a crônica da realidade punk. 

“Cachorros ateus se comiam em frente ao velório”. Aqui já pulamos para outro conto fantástico. A vida se bole em um cenário de morte. Tudo pulsa e chama para o jogo de quem sabe lutar com palavras. 

Vida noves fora zero. Pule para dentro, leitor, é sobre ratos, homens pequenos & grandes, com diálogos para comover. 

Uma última advertência: costela no bafo não rende poema. Aproveite. 


Para adquirir o livro, acesse o Selo Marginal:

https://www.instagram.com/selo_neomarginal/

Ou entre em contato diretamente com o autor. 

 

Vitor Miranda é poeta e escritor paulistano com vivências pelo Paraná e Minas Gerais. Atualmente se divide entre São Paulo e Valinhos. Entre poemas e contos e o romance experimental A moça caminha alada sobre as pedras de Paraty, lançou seu sétimo livro, Os ratos vão para o céu? É poeta e letrista da Banda da Portaria, projeto que nasceu para musicar os poemas de seu livro Poemas de amor deixados na portaria. É parceiro em letras e canções de Alice Ruiz, Rubi, Touché, João Sobral, Luz Marina, Zeca Alencar, entre outros. Criou em 2019 o videocast de poesia Prosa com Poeta, no qual entrevistou diversos artistas. É criador e líder do Movimento Neomarginal, grupo artístico que tenta vencer as amarras do mercado artístico misturando artistas de diferentes níveis (sociais) de público nos mesmos eventos. Está no Instagram.