Por Milton Rezende
Tábuas e pincéis compondo perspectivas de azuis caminhos nas águas de Mina. Walls and bridges interrompendo os verdes dos juncos, ao redor de paisagens recuperadas. Cavalos a toda brida nos levam a estreitos caminhos cavados nas encostas dos morros: paisagens nórdicas, mineiras e paulistas equivalem-se no absoluto do mundo, afinal diluído em contornos de magia, de luz e sombras em meio aos destroços do navio, como se a vida fosse isso – árvores de frio, anjos com substância de crianças, orquídeas de vidro, estampas de pátinas brilhando à sombra dos mistérios e pássaros de lata despertando Maras. Fileiras de peixes nas trilhas do universo e os sinais e os signos que saltam ao chamamento das águas. Estenografia de códigos rompendo o silêncio e o diário de Jonathan esquecido nos caixotes do castelo de Mairiporã. Nada afinal daquilo que fosse submerso, subterrâneo: tudo dista. A esperança atravessou a quilha e não encontrou nada além da terra nativa pulverizada de cinzas e os fantasmas. E parecia simples seguir o diário de bordo. O capitão já estava morto e amarrado ao leme. A meia linha inteira que nunca se concretiza. O camarote, o beliche e aquela escotilha que nunca se fecha de noite, as vagas do mar bem dentro, o meu esforço supremo de escrever e o ateliê de sensibilidades de Vinna.
Do livro Uma Escada que Deságua no Silêncio.
Milton Rezende, poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, morou em Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quinze livros publicados. Tem um site e um blog.
Fortuna crítica: “Tempo
de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton
Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).
