Por Milton Rezende
Enquanto a chuva não passa
Os
dias acalmaram o sonho,
como
se para isso não bastasse
a
ausência de teus olhos.
Mas
na noite um verso simples
brotava
do silêncio para dar
uma
esperança menos triste
ao
cotidiano.
Ao
longe eu visualizava uma imagem
pensativa
que acreditava estar
preenchendo
o hálito da noite
e
a chuva no telhado com teu
sorriso
mágico. Mas a distância
não
me permitia tais conclusões.
Seria
necessária a palavra e a
tua
presença para restabelecer a paz
e
aquela sensação confiante que
tínhamos
quando crianças.
Coordenar
as coisas e arrumar
a
casa num ambiente tranquilo
para
receber a realidade,
dissipar
os sonhos
e
adormecer em teu gesto.
Do
livro A Sentinela em Fuga e Outras Ausências
Eutanásia
Sob
uma chuva de outubro
o
germe penetrou
no
solo árido de mim,
onde
as emoções se resguardavam.
Mas
o sol e o raciocínio
dos
meses subsequentes
atrofiaram
o germe ávido
que
havia trazido o amor.
E
foram tantos os desencontros
do
clima naquele ano
que
a meteorologia afetiva
justifica-se
culpando a ambos.
Agora,
numa sala de espera
contígua
à do esquecimento,
resta-nos
como única saída
a
eutanásia cúmplice
do
que restou do sonho.
Do
livro O Acaso das Manhãs
Milton Rezende, poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 23 de setembro
de 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de
Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público
aposentado, atualmente reside em Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua
obra consiste de quatorze livros publicados. Tem um site e
um blog.