Com capa e projeto gráfico de Filipe Itagiba, seguido de posfácio de Bruno Larrubia, 10 poemas que não serão lidos em Harvard está organizado na forma de textos coetâneos, totalizando 140 páginas.
Sendo o vigésimo primeiro livro de
Paulo Emílio Azevedo, o quarto bilíngue, dessa vez em português/inglês, a
obra permeia uma relação entre tradução e transcrição, dialogando com as
relações entre comunicação, língua, musicalidade e plasticidade da palavra.
Trazendo além dos poemas, parte de pesquisas acadêmicas do autor e um enlace
com seus desafios na vida pessoal, pode se dizer que as três notas que abrem o
livro devem ser leitura obrigatória para quem desejar de fato saborear a
narrativa e os delírios estéticos anunciados na ampliação da noção de
currículo. Paulo esgarça em cena a presença de um curriculum mortis como parte
de uma ressignificação criativa do luto.
Fiquei sem poema pra dizer que te amo
Havia me esquecido das flores
somente ontem me dei conta que
elas partiram
Eu, aqui parado,
imberbe, poste, frito, oculto,
tardio
eu aqui, sem mim
Depois veio o vento,
com ele o nó, com ele a febre,
com ela a dor
fiquei sem
Depois veio a luz,
com ela a musica, a partitura,
a parte pura, a parte meia,
a parte escrita sem verbo algum
Eu ali gasto no tempo,
erodido,
fodido,
pintado de cal
Meu corpo grama,
meu corpo pó,
meu corpo areia,
meu corpo dó,
meu corpo ré,
meu dorso réu,
meu crime pequeno,
meu crime maior
Era isso,
o amor e uma pá para escavar o
silêncio
um adeus e a ausência da
palavra certa
Havia esquecido a chave dentro da
boca
tornei-me cadeado enquanto as
flores se emanciparam
Depois, nada veio
nada existe depois da
liberdade
Original em sua forma única de escrita entre o lírico, o sujo e o intelectual, o poeta abre seu peito e o colore de brio sem medo de ser feliz, sem hesitar a vida selvagem dos seus pensamentos e nem de sua mão mágica em transformar o desastre em arte. Ele é a sua própria história, seu corpo é seu laboratório maior, já suas palavras desobedecem a redação pautada e fogem do papel. Paulo assim como a obra é aquilo que nunca conseguiremos apreender na sua totalidade. Ele e seus poemas sempre escapam, transbordam, nunca caberiam em Harvard.
Paulo Emílio Azevedo é fundador da Cia Gente, rede de protagonismos & criação e mentor da Fundação PAz. Professor convidado da UNICAMP (Campinas/SP) em 2021 e pesquisador da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF-RJ), na qual desenvolveu atividade no projeto Territórios do Petróleo à composição de cartografias da palavra. Professor titular das disciplinas Corpo e Performatividade e Panorama da Literatura Dramatúrgica Mundial e Brasileira no Teatro na EMART. Em espaços menos formais, Paulo é dramaturgo, antropólogo e professor. Pai, filho e espírito desobediente. Daltônico, aquariano e tricolor. Ama arte, boa comida, viagens e café quente.