Por Adriano Abbade
argila
seca em minhas unhas
a argila com que moldei o mundo.
um barco sem remos
singra a toda velocidade.
de teus olhos
filtro o arco-íris
iluminando a trilha
que vai de mim ao nada
e ofusca meu horizonte.
tornando e retornando
como as ondas que depositam
areia
no movimento irrefletido
das águas.
bar do parque
vi na internet
a fotografia
do chikaoka
não havia data
mas acho que era
dos anos oitenta
o ambiente
ainda não era hostil
a poetas e putas pobres
–
garrafas
de cerpinha
na mesa –
max e ruy barata
bebendo outrora
no bar do parque
***
a palavra desponta no céu
da boca
e se retesa
no chão da página.
sem autorização
invade
espaços
levanta uma pira
de fogo
na ponta da língua.
mergulha em profundezas
incalculáveis,
dança seu balé de letras
e águas
em vasto
aquário
marinho.
Adriano Abbade nasceu em Marabá (PA), em 1988. É poeta, escritor e jornalista. Tem poemas publicados nas revistas literárias Caliban e Mallarmargens: Revista de Poesia e Arte Contemporânea. Participou da antologia Parem as Máquinas (Selo Off Flip 2020). Seu livro de estreia, transversais (2023), foi vencedor do Prêmio Bruno de Menezes da I Bienal de Artes de Belém. Contato: abbadea@gmail.com