13 de abr. de 2023

Três poemas


Por Adriano Abbade

argila

seca em minhas unhas
a argila com que moldei o mundo.
um barco sem remos
singra a toda velocidade.
de teus olhos
filtro o arco-íris
iluminando a trilha
que vai de mim ao nada
e ofusca meu horizonte.
tornando e retornando
como as ondas que depositam
areia
no movimento irrefletido
das águas.
 

bar do parque

vi na internet
a fotografia
do chikaoka

não havia data
mas acho que era
dos anos oitenta

o ambiente
ainda não era hostil
a poetas e putas pobres


– garrafas
de cerpinha
na mesa –

max e ruy barata
bebendo outrora
no bar do parque
 

               *** 

a palavra desponta no céu
da boca
e se retesa

no chão da página.

sem autorização
invade
              espaços

levanta uma pira
de fogo

na ponta da língua.

mergulha em profundezas

incalculáveis,

dança seu balé de letras

e águas
           em vasto
              aquário
                            marinho.
 

          

Adriano Abbade nasceu em Marabá (PA), em 1988. É poeta, escritor e jornalista. Tem poemas publicados nas revistas literárias Caliban e Mallarmargens: Revista de Poesia e Arte Contemporânea. Participou da antologia Parem as Máquinas (Selo Off Flip 2020). Seu livro de estreia, transversais (2023), foi vencedor do Prêmio Bruno de Menezes da I Bienal de Artes de Belém. Contato: abbadea@gmail.com