Por Glauco Mattoso
Por volta dos dez annos, entre 1960 e 1961, fui victima, à mercê da molecada, dum bullying que redundou em curra, facto que condicionou meu masochismo/fetichismo, o qual exorcizei na forma de innumeras versões litterarias, seja no MANUAL DO PODOLATRA AMADOR, seja na poesia, principalmente no livro MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, ENSORIAES E SENSACIONAES. Mas toda essa violencia sexual não a thematizo apenas para desabbafar. Me solidarizo com outros excluidos que sofrem discriminações ou abusos. Dahi que muitos factos veridicos me inspiram, como o caso abbaixo, commum nos States, onde a gordophobia se somma a outros preconceitos. O poema sahiu no livro HISTORIA DA CEGUEIRA.
LICÇÃO DE RUA [8566]
A gorda, que perdeu recentemente
os olhos, é bonita, mas bobinha.
Andando na calçada, ella apporrinha,
com sua bengalinha, muita gente.
Ainda que medir os passos tente,
não sabe caminhar em recta linha.
Dois brutos marmanjões, que ella ja tinha
trombado, vão parar na sua frente.
Fingindo offerescer adjuda, dão
o braço, mas a levam a local
fechado, onde estupral-a acham "legal",
pois querem que ella "apprenda uma licção".
Na bocca a fodem fundo, gozação
fazendo: "Engole, cega! Ahi, que tal?"
A gorda, adjoelhada, grunhe e mal
consegue, mas curtindo os dois estão.
Na rede virtual, a dupla posta
o video que gravou, no qual a gorda
se fode. Todos acham bom expor da
coitada a bocca cheia. A turma gosta.
A cara lembra alguem que comeu bosta.
Os jovens, sem deixar que a cega morda
a rolla que lhe mettem, ao sabor da
sucção junctam sebinho, em grossa crosta.
Leia o livro Historia da cegueira:
https://issuu.com/ed.casadeferreiro/docs/historia_da_cegueira