Os últimos dias da gente
Nos nossos
Últimos dias
Você não morava mais
Na casa do meu
Querer convicto.
Passei a ser
No máximo visita,
Cheguei a adquirir pequenas
Cerimônias
De filho que há muito
Não mora com os pais.
Chegava
E logo me despedia
Sem que decidisse afinal
Que não te amava mais.
E durante todo o tempo
De estar
Eu te olhava sentado
Na sala das antigas certezas
Com meus ansiosos
e
Angustiados olhos
De correr mundo.
As coisas de Ana Maria
Quadros
Porta-retratos
Seu piano de um século
A estatueta de Mozart
A planta que vingou
No canto que não era de se imaginar.
Suas panelas
Facas de todos os tipos
A louça fina
Os potes de temperos
Que só ela saberá em que usar.
As toalhas perfumadas
Os lençóis esticados
Como daquelas casas de campo
Boas de ficar.
Os sapatos
Os vestidos
Os colares.
Ela não é nada disso,
Posto que é essência bem maior que a matéria.
Mas tudo isso, ah, tudo isso é ela
seu riso seus causos
sua presença
Mesmo quando não está.
André
Giusti nasceu em maio de 1968 na
cidade do Rio de Janeiro e mora em Brasília desde o final dos anos 1990. Tem vários
livros publicados, entre eles De
tanto bater com o osso, a dor vira anestesia (Penalux - poesia), As
estranhas réguas do tempo (Multifoco – crônicas) e Os
filmes em que morremos de amor (Patuá – contos).