Se
você já precisou de um encanador com urgência durante um feriado, sabe que toda
ajuda é bem-vinda. Mas se sua privada abriu um portal místico e você teve que
contar com a ajuda de um encanador xamânico, você poderia estar vivendo em uma
das histórias de Douglas Domingues. Não tem nem como tentar disfarçar: o título
do livro, Reencarnei como uma jujuba e outros textos igualmente degradantes,
já deixa bem claro o que vem pela frente.
Com
uma escrita que tem um forte apelo à comunidade nerd e geek, recheado de
referências e com uma redação clara e fácil, Domingues consegue evocar
sentimentos que todos compartilhamos. O autor apresenta diversos textos que
partem de situações cotidianas e terminam em absurdos inimagináveis. Essa
mistura entre banal e bizarro fica evidente já no conto que abre o livro, no
qual o leitor se depara com o relato de uma pessoa que se desespera ao
reencarnar como uma jujuba vencida na prateleira de uma lojinha de doces numa
cidade de interior. No conto A experiência do semáforo, um estudante
universitário impressionável descobre um ritual de magia negra e põe em teste
para controlar um semáforo demorado que sempre fica em seu caminho. Já Descaroçador
de queijo, escrito em segunda pessoa, põe o leitor na pele de uma pessoa
que parte em busca de um utensílio para servir queijos finos e acaba em uma
civilização intraterrestre escondida no centro da cidade.
O
livro traz, ainda, poesias e microensaios na mesma toada. Em um poema, uma
drosófila faz um apelo de privacidade ao cientista geneticista Thomas Hunt
Morgan, nobel de medicina de 1933. Já em O peixe morre pela boca, o
autor cria um poema narrativo que ele mesmo classifica como “uma poesia sci-fi
biopunk que começa com torresmo e termina no lamento de uma criatura
marinha antropomórfica”.
De
acordo com o autor, seu primeiro livro, Uma fuinha sobrenatural se instalou
no meu cérebro e outros textos igualmente imbecis, publicado apenas em
formato e-book, teve mais de 1400 cópias vendidas e distribuídas, e já conta
com quase 100 avaliações positivas no site da Amazon. Desde o lançamento, Reencarnei
como uma jujuba irá contar com leitores cativos, já que sua impressão é
fruto de uma campanha de financiamento coletivo bem-sucedida na plataforma
Catarse, tendo atingido 110% da meta.
A
elaboração da capa repetiu a parceria do primeiro livro do autor, e ficou à
cargo de Victor Bello, expoente dos quadrinhos alternativos e responsável por
obras que tem se tornaram clássicos instantâneos do cenário de quadrinhos
underground brasileiros, como Úlcera Vortex (2017), O alpinista
(2019), Sinuca paranóide (2020) e Bufa Gunfa (2021).
Reencarnei como uma jujuba e outros
textos igualmente degradantes
foi lançado em formato e-book no site da Amazon dia 11 de maio, custando R$
5,99. O autor garante que, em breve, a versão física estará disponível para
venda, mas não nas melhores livrarias. Só nas mais estranhas.
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Douglas Rodrigues é capixaba radicado em São Paulo. Além de autor, também é mestre e professor universitário na área da comunicação, lecionando temas ligados ao cinema e audiovisual, mídias sonoras e novas mídias. Pai e marido, escreve só depois que a família foi dormir, um pouco por vergonha, um pouco por que é o único tempo que o sobra. É um aficionado por quadrinhos baratos, filmes ruins, música esquisita e coisa parecida.