24 de jan. de 2023

Zine 'Blasfemo' e as descidas aos infernos

Por Diego El Khouri 

Vísceras... Carne podre... Enxofre... Ruínas... Precipício... Hemoglobina...: Ingredientes fartos nesse caldeirão zinístico chamado Blasfemo, impresso publicado pela lisérgica Merda na Mão, editora que tem a proposta hercúlea de publicar os impublicáveis. É uma porrada no estômago, dinamite na cara dos desavisados. A edição número 1 foi publicada em meados de 2021, aquele aninho desgraçado que todos nós atravessamos, contém 12 páginas em folha A4 dividida ao meio. Nesse número inicial, praticamente recheado de cartuns e charges do início ao fim, conta com uma capa pesada: um pau duro (representando o capitalismo)  enfiando no cu (esse representando o  povo). Diego El Khouri, o outsider da galáxia de parnaso, autor desse escatológico trabalho, tinha como objetivo que cada capa do zine Blasfemo fosse intensa como uma faca na carne ou um murro na cara. Essas duas primeiras edições cumpriram a missão! 


A segunda publicação, lançada no segundo semestre de 2022, traz na capa uma clara evidência ao jornalista Vladimir Herzog, morto cruelmente pela ditadura em 1975. Essa ilustração já tinha saído em outro livro da EMNM, o Poesia Podre. Um poema do Fabio da Silva Barbosa também desenha as páginas delirantes desse zine punk, o resto são vômitos (versos, quadrinhos, desenhos) arrancados do âmago do ser sem pudor ou moral que assina suas viagens e reflexões como El Khouri. Aliás, o maloqueiro junkie Rimbaud já dizia no livro Estadia no Inferno que “a moral é a fraqueza do cérebro”.  


O zine Blasfemo é “cusparada de vinho e fel / hecatombe intestinal / cabeças cortadas / pus, porra, sangue e versos. Delirium tremens diante do estrume da vida vivida. Explosão de imagens mil. Tempestade e mormaço. As chagas expostas da existência sem firula, sem blá blá, blá, sem lero lero. 

O editorial da segunda edição exemplifica melhor a ideia e essência desse zine que tem como força motriz permanecer contínuo e visceral: 

garrafa cheia pela metade. outsider da galáxia de parnaso atravessando o século. “nada nas mãos ou no bolso”.  a solidão absoluta do idílico ou afetuoso. agora é só porrada no estômago.  choque nas genitálias. pau de arara. corpos incinerados. ruínas cadavéricas. terra devastada. a merda na mão é um ponto fora da curva. merda na mão: espaço underground de resistência e luta. merda na    mão   — delirium tremens no precipício.  apartidários.  à parte de tudo e de todos. conectado com a coletividade. paradoxo. explosão. agonia.  êxtase. asfixia contagiante. Zine BLASFEMO número 2: mais um vômito artístico da EMNM.... mais uma gota de sangue espalhada por aí. mais um veneno embriagante de liberdade criativa e sensorial. hemoglobina. estômagos com fome. cidades submersas. 

E pra finalizar, deixo um comentário assinado pelo professor, pesquisador, quadrinista e zineiro Gazy Andraus sobre o zine Blasfemo número 2: 

Um artezine acidamente crítico e que contrapõe a tecnologia (recortes e colagens) com o manuscrito e desenhado e afere um criticismo contundente em relação à arte e à censura  (Vladimir Herzog)!


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