“Autoficcionar é resistir, pôr em termos próprios, vitais, o que a razão psiquiátrica reduz a um monólogo, o seu, sobre a ‘loucura’. É afirmar que, para além deste monólogo, existem formas de pensar, de criar, que não são loucas, mas também não espelham a razão, ocupando o intervalo entre ambas.” - Filipe Ferreira, Doutor em filosofia pela Universidade Nova de Lisboa.
Após ter dado uma palestra sobre a luta antimanicomial no hospital onde trabalhava, a psicóloga Elieni Caputo foi detida e levada à força para um manicômio, hospício, cárcere psiquiátrico. Naquele dia e hora, usava uma blusa com estampa de Frida Kahlo. “Então, me tucharam atrás da ambulância, o meu pai na frente, o psiquiatra na frente. Eu berrando de dor e desespero o percurso todo. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas foi uma eternidade pra mim”.
Com linguagem direta e coragem admirável, a autora/narradora ficcionaliza o processo que a levou ao surto – “Você enlouquece porque sofreu demais e não teve onde colocar isso, é fato, é uma explosão” –, os delírios que o configuraram, as semanas no hospital, a relação com a família. O texto é entremeado com registros de todo o processo: advertências do condomínio onde morava, fotografias de si à época da internação, laudos médicos e até um relato da própria mãe, escrito à mão.
Cada virada de página de Laço de fita é uma surpresa e um susto, mas também tem humor, dada a forma coloquial e o recurso de “fazer graça com a própria tragédia”, encontrado por Elieni Caputo, para narrar o inferno que atravessou.
Um livro indispensável àqueles que se interessam pelo tema da saúde mental, que desconfiam de quem julga quem é “louco” e quem é “são” e, sobretudo, aos que apreciam boa literatura e inovadoras formas de contar histórias terríveis, de um jeito encantador.
Laço de fita pode ser adquirido na Amazon, na Livraria da Tarde e no site da Quixote.
Elieni Caputo é graduada em Psicologia pela
UFSCar e em Letras pela PUC-SP, doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas
de Língua Portuguesa pela USP, membro do GENAM – Grupo de Estudos e Pesquisa em
Literatura, Narrativa e Medicina. Autora dos livros de poesias Violência e
brevidade (Penalux, 2020), Casa de barro (Patuá, 2018) e Poema em pó (7Letras, 2006). Alguns de seus poemas foram premiados em concursos literários
no Brasil e em Portugal, como “Despedida”, vencedor do 1º Prêmio no Concurso de
Poesia da Biblioteca de Condeixa – Portugal.