Por Paulo
Sposati Ortiz
O tempo destronado
A moldura azul do céu
não é moldura, boca
aberta – bem
aberta – por perfeição e velocidade.
Este
o ato de completo abandono,
enquanto o criminoso cansaço das nucas encaixa-se
no regaço
que se avoluma.
Respiro em tais profundidades.
Minhas mãos geladas
confabulam
com a invenção das montanhas,
somente aquelas
que descobrem o perdão e escapam.
A crisálida aprisionada
– Rente à parede do mar
lançarei meu filho.
Acaricio, antes, seus cabelos
e o aroma de algas verdes
molhadas – próximo ao dourado –
sobe até a mim.
Com os dois braços
quase estendidos, minha deficiência deterá
o extermínio.
Paulo
Sposati Ortiz
é paulistano, graduado em Letras/Linguística pela USP, autor do livro de poemas
A diferença do fogo (Patuá, 2004). É professor e preparador de textos,
coordenou grupos de leitura e produção de poesia (Poenocine, 2008, e Facas na
manga, 2011). Foi curador das Quintas Poéticas (2013) da Editora Escrituras na
Casa das Rosas. Contribuiu em diversas revistas de literatura (Cronópios,
Mallarmargens, dEsEnrEdoS, Grito Cultural e Polichinello).