21 de mar. de 2022

O tempo destronado & A crisálida aprisionada

Por Paulo Sposati Ortiz 


O tempo destronado

A vida é maior.
A moldura azul do céu
não é moldura, boca
aberta – bem
aberta – por perfeição e velocidade.
 
Este
o ato de completo abandono,
enquanto o criminoso cansaço das nucas encaixa-se
no regaço
que se avoluma.
 
Respiro em tais profundidades.
 
Minhas mãos geladas
confabulam
com a invenção das montanhas,
somente aquelas
que descobrem o perdão e escapam.
 
 
A crisálida aprisionada
 
– Rente à parede do mar
lançarei meu filho.
 
Acaricio, antes, seus cabelos
e o aroma de algas verdes
molhadas – próximo ao dourado –
sobe até a mim.
 
Com os dois braços
quase estendidos, minha deficiência deterá
o extermínio.

 

Paulo Sposati Ortiz é paulistano, graduado em Letras/Linguística pela USP, autor do livro de poemas A diferença do fogo (Patuá, 2004). É professor e preparador de textos, coordenou grupos de leitura e produção de poesia (Poenocine, 2008, e Facas na manga, 2011). Foi curador das Quintas Poéticas (2013) da Editora Escrituras na Casa das Rosas. Contribuiu em diversas revistas de literatura (Cronópios, Mallarmargens, dEsEnrEdoS, Grito Cultural e Polichinello).