Por Allyne Fiorentino
Endireite a postura.
Não pense que isso é privilégio de seu tempo
Antes também andávamos de uma escuridão a outra, com pequenas estrelas –
eram insuficientes para iluminar.
As colunas esmagadas pelo peso da mão
os dedos sujos enterrados em seus espíritos
Sossega que a vida é arranco
pluma pairando em feltro
***
Dia desses eu não acordei direito
Meu braço esquerdo esvaziado de sangue
Paralisado de medo
mas ainda vivia
como se tivesse vida própria
Em meus sonhos eu o encontrei vivendo sua vida esférica, ele todo um braço
um braço cheio de si
uma horda de braços.
Descobri na morte que meu destino é sentinela
E antes de levarem minha medula
Levarão meu grito.
Mas você agora é famoso, braço esquerdo –
você sabe que isso te enfraquece.
***
A carne fortalece seus ossos, mas
a mesquinharia fisiológica
nas pequenas coisas não são mais felicidade –
– um pires pintado de preto também pode ser profundo.
Eu estou
Eu sou
Isso matou a todos nós.
É um tempo descritivo
De coisas e pessoas.
Então, conte-me
(amígdala curada com verbo)
o que é dor
para que saiba como senti-la.
Allyne Fiorentino é mineira e mora em São
Paulo. Mestra em Estudos Literários pela Unesp, especialista em Design
Instrucional e graduada em Letras Português/Espanhol pela UFTM. Atuou na área
de pesquisa de Teoria e Crítica da Poesia, Simbolismo brasileiro e
hispano-americano, estudando os autores Cruz e Sousa e Rubén Darío. Atua na
área de novas tecnologias aplicadas à Educação a Distância e autoria de
material didático. É apaixonada por Literatura Feminina como instrumento
histórico-social para compreender o papel atribuído à mulher na sociedade e o
feminismo.