Por André Giusti
Aquele
homem enterrou o filho ontem
Na
semana passada havia sido a mãe.
Qual
dos seus tios morreu hoje?
É o
pai de quem que tem pouca chance
E
precisa de corrente e oração?
2ª
feira foi a Lila,
Nossa
colega de escola
O
marido postou na rede social,
Obituário
moderno
Dessa
modernidade coxa, de atraso e negação.
Aqui
e ali um vizinho se despede da esposa
Quando
mal acabou de perder o irmão.
Acordo
assustado de madrugada
O
mero pigarro me apavora
e
subir no elevador
dividir
1 metro com o semelhante
é
jogar em uma loteria às avessas.
Lá
fora, tudo certo
Tudo
normal
tudo
festa pagode descontração.
Nesse
país que se recusa a ser grande
os
idiotas riem feito chacais feito hienas
na
massa imbecilizada da aglomeração.
André Giusti nasceu em maio de 1968 na cidade do Rio de Janeiro e mora em Brasília desde o final dos anos 1990. Tem nove livros publicados entre contos, crônicas e poemas. O mais recente é a coletânea de poemas De Tanto Bater com o Osso, a Dor Vira Anestesia, pela Editora Penalux. Espera lançar este ano seu primeiro romance, Só Vale a Pena se Houver Encanto.