Por
Milton Rezende
Todas as coisas precisam passar
A minha cabeça estácoberta de machucados.
Se arranco as cascas, aí
sangra e emplasta os cabelos.
Se as deixo ficar, crescem e
incomodam como verrugas.
Revolto-me contra tudo:
cada poro é uma blasfêmia.
A minha morte exala e propaga
através do couro e das unhas.
Penso nas últimas alternativas:
marcar com um dermatologista.
Ou decepar o pescoço doente,
se há nódulos por todos os lados.
Cada ferida tem um nome, um
símbolo ou uma circunstância.
Desconfio que o problema
talvez esteja nos adjetivos.
Frequento velórios onde percebo
a dissolução das cerimônias.
A vida será mesmo este oceano de merda
como
o amanhã de um pão mofado no cardápio?
Mitos e Maldições Sobrenaturais de
Bruxas e suas Estripulias Malignas.
Um Estojo de Balas de Prata para as
Cerimônias Fúnebres em que estavas.
O Influxo da Lua Cheia atuando
Sobre os Corpos Astrais no Cerne
Das Superstições Superlativas e
Faz
alguns anos
que eu estou
do lado de fora
observando o
movimento.
Do ponto de
onde eu estou
vejo a luminosidade
de uma janela
no 2º pavimento.
Todos os dias
de um ponto neutro
de observação
eu vejo o que seria
a rotina da família.
Percebo os vultos
que se locomovem
dentro da casa
numa harmonia
pressentida.
Tarde da noite
alguém chega
até a janela
e fecha as cortinas
de persianas.
Minutos depois
a lâmpada foi
apagada dentro
do casulo de seda
visto pelo lado de fora.
Faz alguns anos
que eu estou
observando
a luminosidade
do ângulo externo.
Maiúsculas
Lendas de Vampiros e Lobisomens.Mitos e Maldições Sobrenaturais de
Bruxas e suas Estripulias Malignas.
Um Estojo de Balas de Prata para as
Cerimônias Fúnebres em que estavas.
O Influxo da Lua Cheia atuando
Sobre os Corpos Astrais no Cerne
Das Superstições Superlativas e
Essenciais.
A luminosidade através da janela
que eu estou
do lado de fora
observando o
movimento.
Do ponto de
onde eu estou
vejo a luminosidade
de uma janela
no 2º pavimento.
Todos os dias
de um ponto neutro
de observação
eu vejo o que seria
a rotina da família.
Percebo os vultos
que se locomovem
dentro da casa
numa harmonia
pressentida.
Tarde da noite
alguém chega
até a janela
e fecha as cortinas
de persianas.
Minutos depois
a lâmpada foi
apagada dentro
do casulo de seda
visto pelo lado de fora.
Faz alguns anos
que eu estou
observando
a luminosidade
do ângulo externo.
E quando eu subo
as escadas encontro
a
porta fechada.
【Do livro O Jardim Simultâneo (Penalux, 2013). R$ 34,00 + R$ 10,00 (frete) = R$ 44,00】
Milton Rezende nasceu em Ervália (MG). Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora
(MG), onde foi estudante de Letras na UFJF. Funcionário público aposentado,
atualmente reside em Campinas (SP). Sua obra consiste em treze livros
publicados, entre os quais Uma Escada que Deságua no Silêncio (Multifoco, 2009), Inventário de Sombras (Multifoco, 2012), A Magia e a Arte dos Cemitérios (Penalux, 2014) e Anímica (Penalux, 2022, no prelo). Possui o site www.miltoncarlosrezende.com.br.