13 de dez. de 2021

'Teimosia e memória', de Marina Schneider

"A boca abre e fecha, fala e cala, abre as cortinas, anuncia e encerra. Por ela, sussurramos aquilo que com muita dificuldade não gritamos e urramos aquilo que se espalha pelas veias e cerra os punhos (e os olhos) em lágrimas vermelhas. O mundo que acessamos pela boca, embora muito não tenha gosto, todos sabemos o sabor que tem. Entre o azedo e o doce da saudade, sal do mar, da pele, das lágrimas, o doce do cafuné, do enjoativo, daquilo que engolimos a contragosto.

 

Teimosia e memória é sobre tudo aquilo que degustamos (e desgostamos) em um mar de tons, toques, carícias e carências. Salgar o feijão, entornar o leite e adoçar o café. Os medos e as medidas. Afinal, o homem é o único ser vivo que  permanece no sol mesmo quando o couro queima.

 

Aqui experimentamos o gosto da vida por meio das palavras, como quando sentimos o sabor pelas pontas dos dedos. Daquilo que feito pimenta faz a gente lembrar que o sangue corre (e escorre). É um lembrete de que a vida é  movida pelo fogo, não ganha quem apaga, ganha quem se esquenta."

Por Heloiza Dias, escritora, artista multimídia e redatora




Marina Schneider, brasileira, oriunda do Rio Grande do Sul. É roteirista, escritora, criadora audiovisual e uma adepta passional da poesia que toca a imagem, que toca o vídeo, que toca o movimento corporal de quem se expressa.

 

Imigrante em Portugal desde 2017, concluiu seus estudos em cinema na Universidade da Beira-Interior e especializou-se em Roteiro Cinematográfico na Escuela TAI, Escola Universitária de Artes, em Madri. Lá desenvolveu técnica e sentimento pela escrita cinematográfica, sua principal área de atuação.

 

Atualmente reside no interior de Portugal, trabalhando com realização de cinema e teatro na ASTA – Associação de Teatro e Outras Artes. Seu trabalho de maior destaque é Eguncio, roteiro de longa- metragem premiado pelo Festival de Roteiro de Língua Portuguesa GUIÕES  em 2021.

 

Teimosia e memória, publicado pela Editora Urutau em 2021, é seu primeiro livro. Trata-se de uma compilação de segredos, gritos e sussurros, notas de rodapés e listas de supermercado que se juntaram ao longo dos anos e transformaram-se em páginas. Por meio da escrita, Marina aborda, de uma maneira poética, o cotidiano, a identidade, as relações e o afeto que surge do      colapso entre os três primeiros.


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