Por Adrianna Alberti
Seu nome é perpétuo
Quando o dia se abriu,
depois de tanto tempo de nuvens cinzas, timidamente ela preparou o jardim:
balões coloridos, toalhas de mesa bonitas, tendas esvoaçantes e sorrisos cheios
de boas intenções. Eles trariam as comidas, bolos, refrigerantes, salgados e
docinhos mil. Ela confiava, eles estariam lá para quando ela resolvesse exibir
o vestido mais caro e as cores mais vibrantes. Mas, então, por intuição, antes
de ver o sol despontar no horizonte, ela se sentou na maior mesa, acendendo a
vela de comemoração sozinha, rodeada de estrelas e silêncio, cancelando os
festins.
Há três máscaras, a do
orgulho, a da nostalgia e a da curandeira. A primeira ela veste sempre constrangida,
desacostumada a ostentar o ouro, os louros e a vitória – essa, ela deixa para
usar quando sabe que todos estão distraídos demais e não será observada. A
terceira é sua alcunha, ali sempre apta, disposta e a postos – nessa, carrega
tudo, desde as ervas à sinceridade, sua história pincelada em aquarela e
grafite, desde os dedos sujos de terra às marcas da guerra. A segunda, a única
que nunca tira, deixa as ranhuras marcar a face, a madeira misturada com a
pele, cravando dolorosamente cada final de dia que ela abraça, esperando a
morte.
A maior mentira que nos
contam é que criaturas místicas morrem quando deixamos de acreditar nelas. Faz
sentido apenas quando você para de buscá-las, pois é quando elas param de
surgir. Mas cá estou, fechada em um quarto, sendo crente, observando-o
aguardar. Pelo quê? Já não lembramos. Enquanto eu rezo em busca de algo que
possa pará-lo, ele despe sua roupa acetinada, dobrando-a com cuidado. Abaixa-se
no meio do quarto, cabelos caindo em ondas pelo chão, sorrindo como se me
pedisse desculpas. Eu imploro mais uma vez, mas isso não o impede. Ele se
despede, raiando como o dia, com um silvo baixo no ar, finalmente desistindo de
esperar. O pó brilhante que explode cai como cinzas no tapete.