13 de fev. de 2021

O universo genial de Julia Quinn: um pouco sobre o primeiro livro da coleção 'Os Rokesbys'

Por Iasmim Assunção

Bridgerton, nova série da Netflix, vem se popularizando cada vez mais. A produção já se tornou a maior série do serviço de streaming, com 82 milhões de telespectadores em seu primeiro mês de estreia. O roteiro é baseado nos nove livros de época da autora Julia Quinn, a coleção “The Bridgertons”. Cada livro conta a busca por amor dos oito irmãos Bridgerton, nomeados em ordem alfabética do A ao H, no século XIX; mas os livros não são na mesma ordem de nascimento deles. Além disso, o último se trata de uma coletânea de contos sobre os irmãos e seus respectivos pares, além de um capítulo extra sobre a matriarca Violet.

Julia começou a publicar sobre essa família a partir de 2000, se tornando então uma best seller. Apenas em 2018, publicado no Brasil pela Editora Arqueiro, conheceríamos os vizinhos dos Bridgertons, mas de uma geração anterior da família mais fértil da alta sociedade. Os Rokesbys se passa trinta anos antes do primeiro livro com Daphne Bridgerton, e nessa coleção podemos até ver os primeiros filhos de Violet e Edmund Bridgerton (Anthony, Benedict e Colin) crescendo e a família aumentando ano após ano.

Os Rokesbys são quatro irmãos e uma mulher: George é o mais velho, herdeiro do título. Então vem Edward e Andrew, um militar que foi lutar na guerra nos Estados Unidos e outro que estava na Marinha. Nicholas é o mais novo e o arteiro da família. Mary é a mulher Rokesby, mas não tem seu próprio livro.

No primeiro livro da coleção, acompanhamos George Rokesby e Billie Bridgerton. Billie também é a mais velha dos irmãos Bridgerton, mas por ser mulher, não será viscondessa. Billie não se comporta como uma dama deveria: a moça pratica tiro, caça, pesca, usa calças e até cuida das colheitas. É extrovertida, corajosa e adora aventuras perigosas! Para Billie, é ela quem deveria cuidar das propriedades da família, porque era seu sonho. Ela não gostava nem um pouco da ideia de dar seu sonho ao irmão que ajudara a trocar as fraldas, Edmund (que mais tarde seria o pai das crianças ordenadas alfabeticamente).

Já George era diferente, se sentia assim. Ele era reservado, tímido, apesar de presunçoso, e bem mais velho do que o próximo irmão, Edward. George tinha responsabilidades desde o dia em que nascera, mas as odiava. Ele se sentia impotente vendo os irmãos indo para a guerra, sendo que ele não poderia se arriscar para honrar seu país. Billie pensava nele como arrogante e irritante, mas porque não o conhecia como conhecia o bem-humorado Edward ou o simpático Andrew. Era claro para todos que Billie um dia se casaria com um Rokesby, por suas famílias serem sempre tão unidas, e ela aceitara seu destino. Mas esse Rokesby devia ser Edward.

Quando Billie vai salvar um gato do telhado de sua casa e acaba ficando presa por horas, ela não desiste de gritar por ajuda. Para sua infelicidade, o homem que apareceu com um sorriso debochado no rosto e os braços cruzados era George, quem ela odiava. A história entre eles começa quando George deixa a escada cair ao tentar salvar a moça e acaba ficando preso no telhado junto a ela. No entanto, Billie torceu o próprio pé ao escalar o telhado antes de George chegar, e o pequeno acidente levou os dois a passarem muito tempo juntos, pois ele é quem teve de carregá-la após finalmente descerem do topo da casa, mesmo que nenhum sentisse a mínima vontade de conversar um com o outro.

Billie não é delicada e cheia de formalidades, o que deixa os diálogos entre ela e George cheios de farpas. Julia Quinn, como sempre, consegue que nos apaixonemos por qualquer personagem de seu desejo. Billie e George são teimosos, têm a cabeça-dura e não admitem para si mesmos que apreciam a companhia do outro. Não poderiam, depois de tantos anos dando respostas ríspidas. George via a menina fora dos padrões como algum tipo de aberração, mesmo que se importasse com ela o suficiente para não usar o adjetivo no pior significado possível.

Entre os leitores, há uma comparação entre Billie Bridgerton e Eloise Bridgerton, sua sobrinha, e George Rokesby e Anthony Bridgerton. Porém, cada personagem é único. Diferente de Anthony, George não era o libertino que sabia falar com mulheres. Depois que se abre, o mais velho dos Rokesbys é o mais fofo dos homens. Ainda que haja uma diferença de trinta anos entre as histórias, Billie conseguiu ser mais livre e singular do que Eloise. Se a alta sociedade fez alguma coisa, foi se tornar mais rigorosa. Além de que Billie vivia no campo e nunca fora uma debutante na capital.

Como o destino pode ser um tanto inusitado, George e Billie tendem a surpreender a todos e eles mesmos quando começam a nutrir sentimentos um pelo outro. Começa a surgir uma relação de cumplicidade quando os dois deixam o orgulho de lado.

Foi uma surpresa para os fãs experimentar um gostinho dos Bridgertons passados, mas os novos livros são tão divertidos quanto. Vemos até a origem do famoso taco da morte de Anthony Bridgerton em Uma dama fora dos padrões. E para quem sentir saudade dos irmãos que já conhecemos, há várias cenas do trio beligerante ABC nos livros três e quatro dos Rokesbys. Exceto que Anthony, Benedict e Colin ainda são pequeninos, mas a maioria das cenas traz a essência dos adultos: Anthony sentado em cima da cabeça de Benedict, Benedict revidando e usando a altura em sua vantagem, e Violet Bridgerton reclamando que o Colin bebê não para de comer!

Na primeira página de Uma dama fora dos padrões, Julia Quinn dá aos leitores dez razões para lê-lo. E o livro atende às expectativas dos romances de época tão adorados, carregados de momentos emocionantes e instigantes, que nos fazem prender o ar. E momentos que nos fazem rir com os costumes da família Rokesby que não conhecíamos antes: como os jantares com todos os Bridgertons aos finais de semana; ou Andrew, machucado da batalha e se recuperando em casa, incomodando George e Billie e aproximando os dois sem que percebessem.

Os laços de família construídos pela autora são encantadores e trazem um acréscimo a mais para a história do que o foco completamente nos protagonistas.


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