Como tradutor, verteu para o português mais de cinquenta obras. Em
2010, ganhou o prêmio Jabuti pela tradução do romance Purgatório,
de Tomás Eloy Martínez (Companhia das Letras,
2009). Como jornalista, trabalhou em veículos como Veja, Última Hora, Gazeta Mercantil e Folha de S. Paulo. Foi proprietário do Sebo Avalovara,
coordenador executivo do Instituto Moreira Salles e
diretor-executivo da editora Cosac & Naify.
Muito
solícito, Bernardo respondeu – na maioria das vezes sinteticamente, como um bom
jornalista – as perguntas que lhe foram enviadas por e-mail pela colunista
Marcia Barbieri.
Marcia Barbieri – Bernardo Carvalho afirma que a literatura é um antídoto à banalidade. Você concorda com essa afirmação?
Bernardo
Ajzenberg – Isso não é
privilégio da literatura. Toda forma de arte, toda elaboração científica
original e toda ação inusitada, seja ela artística, científica ou não, é
antídoto à banalidade.
Marcia
Barbieri – Qual a influência do
jornalismo na sua literatura?
Bernardo
Ajzenberg – O
jornalismo trouxe o treinamento da observação, a ideia de precisão e a rapidez
no trato das palavras. Mas sempre foi também muito perigoso, para minha
literatura, o risco de cair na facilidade da escrita. Desde o início, sempre
batalhei contra a pressão do texto rápido e direto.
Marcia
Barbieri – Você usa muito ou
pouco da realidade para construir seus personagens?
Bernardo
Ajzenberg – Uso muito
da realidade. Minha ideia de literatura, a maneira como eu lido com ela – e é
assim que ela faz sentido para mim –, é bastante carnal, calcada na experiência
da realidade, seja diretamente a minha, seja de outras pessoas ou grupos. Mas
isso não quer dizer que eu não fantasie. Ao contrário, a fantasia é essencial
para transformar traços de realidade em literatura.
Marcia Barbieri – Você acha que a internet banalizou a ideia de escrita? Qual é o papel da literatura nesse contexto?
Marcia
Barbieri – O trabalho de tradutor
auxilia ou influencia na escrita dos seus romances de alguma forma?
Bernardo
Ajzenberg – Muito indiretamente, no sentido de que, ao captar a carpintaria do
texto do autor a ser traduzido, acabo descobrindo formas diferentes de criação
autoral. Os horizontes se ampliam em relação às possibilidades de escrita ou
narrativa. Mas isso não significa que eu adote essas formas nos meus livros.
Marcia
Barbieri – Você já utilizou a
literatura como processo terapêutico?
Bernardo
Ajzenberg – Escrevo
porque tenho necessidade de escrever. É a melhor forma que sempre encontrei
para conversar comigo mesmo, para expor os meus medos, fantasmas, fantasias. Me
comunicar. Me encaixar socialmente. Eu publico o que escrevo porque acredito
que minhas experiências são as mesmas de muitas pessoas. Os livros dos outros
sempre me fizeram bem, no sentido de gerar interrogações, sonhar, abrir novos
caminhos, ampliar ideias. Espero que os meus também possam gerar esse tipo de
fruição nos leitores.
Marcia
Barbieri – Quando você escreve um
romance, qual é a sua prioridade: fabulação narrativa ou linguagem?
Bernardo
Ajzenberg – Uma não
existe sem a outra. Nem mais ou menos que a outra. É como a construção de uma
casa, em que você cria os alicerces, as estruturas, mas também as paredes, todo
o interior. Fabulação narrativa pura não me interessa; para isso existem os
roteiristas. A linguagem pura também não me interessa, e a experiência de
transitoriedade breve do Nouveau Roman francês foi, a meu ver, uma demonstração
disso.
Marcia Barbieri – Alguns dos seus personagens me parecem seres solitários, você é um ser solitário? A solidão é aliada ou inimiga do escritor?
Bernardo Ajzenberg – Não sou uma pessoa solitária. Mas lido bem com a solidão. Ela é indispensável, no meu caso, para escrever. Mas, embora o livro seja produzido solitariamente, o seu recheio é fruto de uma vivência coletiva, partilhada.