por Marcia Barbieri
Assumo meu papel de coadjuvante, pego a peça e decoro minhas falas, apesar da dislexia. A penumbra esconde as circunvoluções do meu cérebro confuso. Palavras coalhadas. Memórias soltas de criança.
Eu beirava os dez anos, subia nos telhados, roubava cigarros, contava as moscas ao redor dos olhos dos cavalos e buscava água fresca na biqueira. Nessa época era comum me deparar com aquelas carcaças. Ainda conseguia enxergar as grandes mandíbulas ruminantes. Escutava os estalos feito dentes vivos. As raízes se espalhavam pelo muro bambo do meu rosto. A juventude passou depressa.
Quando Caio me tocava lesmas saltavam do meu umbigo e disfarçavam a secura da minha pele. Éramos a tal ponto idênticos que nosso sexo se assemelhava a uma masturbação adolescente. Ele me beijava e o espelho tão escuro não refletia o suicídio assombroso das minhas órbitas.