Por Rodrigo Novaes de Almeida
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“Eis a verdade e o sentido da vida, do universo e de tudo! Não somos nós que tentamos sair da roda de reencarnações, ou, como outros imaginam, conquistar uma vida eterna pós-morte. Este universo feito de energia e matéria, ele sim é a tentativa magna de se libertar da fonte espectral – uma busca através da matéria para deter a entropia e imortalizar o espírito do mundo e nossas almas, para que não retornem à fonte, cárcere primeiro e último de tudo e de todos. Mas o problema foi, todo esse tempo e eras, termos invertido esta atroz verdade... até agora.” (Josué Francisco Fernandes)
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E se eu contasse para você, leitor, que descobri a equação do nosso universo? Talvez seja melhor começar essa história do início. Aconteceu assim...
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Cerca de treze bilhões de anos atrás – não, não é essa a história. Vou começar de novo. Ontem, após uma maratona de trabalhos (como todo mundo sabe, eu vim de Tralfamadore para a Terra com Vonnegut fazer pesquisa de campo, e como todo tralfamadoriano que se preze, ao conhecer as belezas naturais das vênus calipígias terrenas, principalmente brasileiras, optei pelo exílio, não obstante, permaneço na folha de pessoal do Laboratório Trans-Tralfamadoriano para Pesquisas Suprassemióticas do Setor Lácteo, cuja sede fica na sala vinte e três do nono andar da Universidade Tralfamadoriana; como todo mundo também sabe, de lá ainda vieram John Locke, o filósofo, que terminou a vida como ator num seriado televisivo de grande sucesso, e Angelina Jolie, um vírus de computador tralfamadoriano chamado Cibermute, implantado na Terra para fins ultra-secretos, então, se eu contar essa parte, terei que matar você, caro leitor). Vou começar de novo novamente. Ontem, após uma maratona de trabalhos (eu pesquisava metaversos matriciais feitos exclusivamente para maiores de dezoito anos, e como Josué Francisco Fernandes participa da minha mente, ele se viu no direito de escrever sobre o assunto [link]; acontece que o Josué é humano e eu tralfamadoriano, então nossa convivência, às vezes, se torna bastante difícil, a não ser que estejamos com nossos amigos imaginários no botequim bebendo umas geladas e vendo as formas calipígias locais passarem). E de novo novamente outra vez começo. Ontem, após uma maratona de trabalhos, fomos, Josué e eu, encontrar um desses nossos amigos imaginários, Heráclito – porque não é por ser imaginário que não terá um nome, veja o exemplo do nosso próprio universo, ele é tão imaginário quanto tudo o que há nele, inclusive eu e você, e, infelizmente, a Angelina Jolie, embora corra certo boato de que Scarlett, a Johansson, exista de verdade, pelo menos é o que professam os talassadianos [link], uma gente contemporânea dos cretenses e dos fenícios que sabe viver, mesmo tanto tempo depois de não existirem mais –; e foi justamente o Heráclito, após se esbaldar num desses inferninhos do submundo transcendente de Copacabana, o paraíso imaginário possível desse nosso universo imaginário, pelo menos por essa banda solar, porque existem aqueles que juram haver uma outra Copacabana lá pelos confins de Andrômeda, o que confirmaremos mais adiante no espaço-tempo, quando o espaço-tempo entre as duas galáxias ficar tão próximo que elas se chocarão, e desse ovo mexido surgirá Borboleta [link], a galáxia dançarina do grupo local; e foi justamente o Heráclito, então, após a esbórnia, quem provocou a história que estou tentando, insistentemente, contar aqui, ou o seu transbordamento, fazendo com que eu voltasse às origens (do universo, é claro). Explico melhor o sucedido. Heráclito trouxe a mescalina que Huxley tinha escondido na quitinete dele antes de ir dessa para uma outra, nem melhor nem pior, apenas uma outra, como acreditam os sensatos que dizem ser o tédio o único paradigma essencial da vida (e, conseqüentemente, da morte também), ou a própria essência da vida (e aí já não se sabe se também da morte), como preferem os ponderados – a diferença entre essas duas correntes é tanta que já provocou uma guerra interestelar, cujos efeitos sentimos na pele aqui na Terra, embora, por sorte, não tenha sido na nossa pele propriamente dita, porque os homens ainda não existiam, mas na dos dinossauros, que sucumbiram e morreram, evidentemente de tédio, em meio a todo turbilhão dialético produzido pelos dois lados dissidentes; – ah, sim, Huxley, para quem não sabe, era humano, e morreu humano, apesar de suas tentativas de se tornar tralfamadoriano através do cultivo do peiote. Então Heráclito me deu a mescalina do Huxley e disse que eu devia usá-la para libertar o Josué da nossa mente, porque o Josué já não agüentava mais esse negócio chato que se chama trabalho, ainda mais um trabalho tendo como patrão alguém que estava na sala número vinte e três do nono andar de uma universidade no outro lado do universo, quase lá na borda onde a todo instante e a todo o momento (isso simultaneamente) se passa o filme holográfico de tudo o que acontece no universo [link], um filme aparentemente sem fim e bastante, bastante tedioso (o fato de o patrão estar longe não era ruim, não, de modo algum, dizia Josué, o problema era, esse sim, o fato de a sala ser a de número vinte e três, isso o incomodava sobremaneira). Como dentadura dada é sorriso fácil, usei a mescalina. Tanto Josué quanto eu tivemos, cada qual, nossas experiências místicas, ele como humano, e eu como tralfamadoriano. Ele como humano retornou ao espaço-tempo no qual era um xamã chamado Calígula, que, por desventuras familiares, se tornou imperador e promoter de orgias e derramamento de sangue, não necessariamente uma coisa numa hora e num lugar e outra coisa noutra hora e noutro lugar, já que a sua genialidade consistiu em juntar as duas coisas na mesma hora e no mesmo lugar, o que desagradou a muitos senadores e aristocratas, esses sim, sempre uma coisa e outra, na ordem natural do manda quem pode e obedece quem tem juízo, sabedoria que se desgastou tanto com o passar dos séculos que virou clichê, e como todo clichê passou a ser dito ao deus-dará por pessoas – humanas, claro – que não tem lá muita capacidade de processar o que dizem e, aí, bem, e aí dizem as coisas mais profundas e sábias como se estivessem mascando chiclete bubbaloo. Então o sangue do Calígula, o nosso pobre Josué, foi derramado numa cerimônia orgiástica sem precedentes. Já no meu caso, continuei dentro da nossa mente esperando por Josué, porque não há mescalina no mundo, pelo menos nesse mundo aqui, que faça um tralfamadoriano sair de si ou entrar em si – e isso também depende da corrente que tem o ponto de vista ou, como concordam sensatos e ponderados, pelo menos uma vez na vida, que tem o poder. Minha experiência mística, como bom tralfamadoriano, foi uma não-experiência mística, foi não-coisa alguma. Enfim, Josué voltou horas depois bastante perturbado (e uma perturbação dessas, é preciso esclarecer, tem efeito semelhante ao estado de embriaguês percebido em marujos tailandeses em qualquer redondeza de cais de porto do planeta, não necessariamente do planeta Terra); aí tivemos um problema, mais especificamente um problema locomotor. Caímos, batemos com a cabeça e apagamos. Quando acordei ela estava lá: a equação do nosso universo. E é ela que eu vou revelar agora ao leitor que chegou até aqui nesse vórtice também chamado, carinhosamente, bagaça, ao mundo e a todo o universo (Chupa essa, Einstein!):
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“Eis a verdade e o sentido da vida, do universo e de tudo! Não somos nós que tentamos sair da roda de reencarnações, ou, como outros imaginam, conquistar uma vida eterna pós-morte. Este universo feito de energia e matéria, ele sim é a tentativa magna de se libertar da fonte espectral – uma busca através da matéria para deter a entropia e imortalizar o espírito do mundo e nossas almas, para que não retornem à fonte, cárcere primeiro e último de tudo e de todos. Mas o problema foi, todo esse tempo e eras, termos invertido esta atroz verdade... até agora.” (Josué Francisco Fernandes)
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E se eu contasse para você, leitor, que descobri a equação do nosso universo? Talvez seja melhor começar essa história do início. Aconteceu assim...
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Cerca de treze bilhões de anos atrás – não, não é essa a história. Vou começar de novo. Ontem, após uma maratona de trabalhos (como todo mundo sabe, eu vim de Tralfamadore para a Terra com Vonnegut fazer pesquisa de campo, e como todo tralfamadoriano que se preze, ao conhecer as belezas naturais das vênus calipígias terrenas, principalmente brasileiras, optei pelo exílio, não obstante, permaneço na folha de pessoal do Laboratório Trans-Tralfamadoriano para Pesquisas Suprassemióticas do Setor Lácteo, cuja sede fica na sala vinte e três do nono andar da Universidade Tralfamadoriana; como todo mundo também sabe, de lá ainda vieram John Locke, o filósofo, que terminou a vida como ator num seriado televisivo de grande sucesso, e Angelina Jolie, um vírus de computador tralfamadoriano chamado Cibermute, implantado na Terra para fins ultra-secretos, então, se eu contar essa parte, terei que matar você, caro leitor). Vou começar de novo novamente. Ontem, após uma maratona de trabalhos (eu pesquisava metaversos matriciais feitos exclusivamente para maiores de dezoito anos, e como Josué Francisco Fernandes participa da minha mente, ele se viu no direito de escrever sobre o assunto [link]; acontece que o Josué é humano e eu tralfamadoriano, então nossa convivência, às vezes, se torna bastante difícil, a não ser que estejamos com nossos amigos imaginários no botequim bebendo umas geladas e vendo as formas calipígias locais passarem). E de novo novamente outra vez começo. Ontem, após uma maratona de trabalhos, fomos, Josué e eu, encontrar um desses nossos amigos imaginários, Heráclito – porque não é por ser imaginário que não terá um nome, veja o exemplo do nosso próprio universo, ele é tão imaginário quanto tudo o que há nele, inclusive eu e você, e, infelizmente, a Angelina Jolie, embora corra certo boato de que Scarlett, a Johansson, exista de verdade, pelo menos é o que professam os talassadianos [link], uma gente contemporânea dos cretenses e dos fenícios que sabe viver, mesmo tanto tempo depois de não existirem mais –; e foi justamente o Heráclito, após se esbaldar num desses inferninhos do submundo transcendente de Copacabana, o paraíso imaginário possível desse nosso universo imaginário, pelo menos por essa banda solar, porque existem aqueles que juram haver uma outra Copacabana lá pelos confins de Andrômeda, o que confirmaremos mais adiante no espaço-tempo, quando o espaço-tempo entre as duas galáxias ficar tão próximo que elas se chocarão, e desse ovo mexido surgirá Borboleta [link], a galáxia dançarina do grupo local; e foi justamente o Heráclito, então, após a esbórnia, quem provocou a história que estou tentando, insistentemente, contar aqui, ou o seu transbordamento, fazendo com que eu voltasse às origens (do universo, é claro). Explico melhor o sucedido. Heráclito trouxe a mescalina que Huxley tinha escondido na quitinete dele antes de ir dessa para uma outra, nem melhor nem pior, apenas uma outra, como acreditam os sensatos que dizem ser o tédio o único paradigma essencial da vida (e, conseqüentemente, da morte também), ou a própria essência da vida (e aí já não se sabe se também da morte), como preferem os ponderados – a diferença entre essas duas correntes é tanta que já provocou uma guerra interestelar, cujos efeitos sentimos na pele aqui na Terra, embora, por sorte, não tenha sido na nossa pele propriamente dita, porque os homens ainda não existiam, mas na dos dinossauros, que sucumbiram e morreram, evidentemente de tédio, em meio a todo turbilhão dialético produzido pelos dois lados dissidentes; – ah, sim, Huxley, para quem não sabe, era humano, e morreu humano, apesar de suas tentativas de se tornar tralfamadoriano através do cultivo do peiote. Então Heráclito me deu a mescalina do Huxley e disse que eu devia usá-la para libertar o Josué da nossa mente, porque o Josué já não agüentava mais esse negócio chato que se chama trabalho, ainda mais um trabalho tendo como patrão alguém que estava na sala número vinte e três do nono andar de uma universidade no outro lado do universo, quase lá na borda onde a todo instante e a todo o momento (isso simultaneamente) se passa o filme holográfico de tudo o que acontece no universo [link], um filme aparentemente sem fim e bastante, bastante tedioso (o fato de o patrão estar longe não era ruim, não, de modo algum, dizia Josué, o problema era, esse sim, o fato de a sala ser a de número vinte e três, isso o incomodava sobremaneira). Como dentadura dada é sorriso fácil, usei a mescalina. Tanto Josué quanto eu tivemos, cada qual, nossas experiências místicas, ele como humano, e eu como tralfamadoriano. Ele como humano retornou ao espaço-tempo no qual era um xamã chamado Calígula, que, por desventuras familiares, se tornou imperador e promoter de orgias e derramamento de sangue, não necessariamente uma coisa numa hora e num lugar e outra coisa noutra hora e noutro lugar, já que a sua genialidade consistiu em juntar as duas coisas na mesma hora e no mesmo lugar, o que desagradou a muitos senadores e aristocratas, esses sim, sempre uma coisa e outra, na ordem natural do manda quem pode e obedece quem tem juízo, sabedoria que se desgastou tanto com o passar dos séculos que virou clichê, e como todo clichê passou a ser dito ao deus-dará por pessoas – humanas, claro – que não tem lá muita capacidade de processar o que dizem e, aí, bem, e aí dizem as coisas mais profundas e sábias como se estivessem mascando chiclete bubbaloo. Então o sangue do Calígula, o nosso pobre Josué, foi derramado numa cerimônia orgiástica sem precedentes. Já no meu caso, continuei dentro da nossa mente esperando por Josué, porque não há mescalina no mundo, pelo menos nesse mundo aqui, que faça um tralfamadoriano sair de si ou entrar em si – e isso também depende da corrente que tem o ponto de vista ou, como concordam sensatos e ponderados, pelo menos uma vez na vida, que tem o poder. Minha experiência mística, como bom tralfamadoriano, foi uma não-experiência mística, foi não-coisa alguma. Enfim, Josué voltou horas depois bastante perturbado (e uma perturbação dessas, é preciso esclarecer, tem efeito semelhante ao estado de embriaguês percebido em marujos tailandeses em qualquer redondeza de cais de porto do planeta, não necessariamente do planeta Terra); aí tivemos um problema, mais especificamente um problema locomotor. Caímos, batemos com a cabeça e apagamos. Quando acordei ela estava lá: a equação do nosso universo. E é ela que eu vou revelar agora ao leitor que chegou até aqui nesse vórtice também chamado, carinhosamente, bagaça, ao mundo e a todo o universo (Chupa essa, Einstein!):
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Não, o universo não é um chocolate M&M, para a infelicidade de uns e de todas as mulheres. Eis a leitura correta da equação do nosso universo:
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Onde u = universo, m = mente e m∞ = mente elevada ao infinito
Ou seja: o universo é a mente (de cada um) vezes a mente (que existiu, existe e existirá) elevada ao infinito
Ou seja: o universo é a mente (de cada um) vezes a mente (que existiu, existe e existirá) elevada ao infinito
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Ironicamente (ou não), o resultado da equação é 1 (Um). As implicações filosóficas desse resultado nos remetem à intuição de unidade que define o universo como um mero programa computacional (um emulador, para ser mais exato), que vem rodando como peão maluco, o que nos leva ao parágrafo-epígrafe do nosso texto, escrito por Josué semanas antes de termos caído, batido com a cabeça e apagado, para depois (eu) acordar com a equação. De uma forma estranha, porém bem explicada pela física quântica (outra graça tralfamadoriana importada pelos humanos), a causa – um galo vermelho na testa pós-mescalina – veio algum tempo depois do efeito – a epifania do Josué sobre o sentido da vida, do universo e de tudo. Comigo não ocorreu o mesmo, tendo a equação aparecido para mim depois que acordei do trauma, mas isso é porque eu sou de Tralfamadore e, como todo mundo sabe, somos irresistivelmente simpáticos (não que isso tenha alguma coisa a ver, mas já que quase coisa nenhuma tem alguma coisa a ver no emulador de cognome Peão Maluco, há de bastar). Espero, portanto, e finalmente, que agora (são os meus mais sinceros sentimentos) toda a minha sabedoria traga para você, caro leitor, certa paz de espírito, e que a revelação feita aqui sirva, pelo menos, para quebrar um pouco essa nossa rotina de tédio.
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PS.: O Josué está aqui teimando comigo que o resultado da equação é 0 (Zero) e não 1 (Um), ou que pode ser tanto 0 (Zero) quanto 1 (Um), dependendo do ponto de vista ou de quem tiver poder para fazer tal afirmação, ou até independentemente do ponto de vista ou de quem tiver poder para fazer tal afirmação, porque, retornando à física quântica, é mais sensato mesmo e até ponderado que o resultado seja ao mesmo tempo (e, claro, no mesmo espaço) 0 (Zero) e 1 (Um), o que não deixaria de ser só mais uma piada do emulador Peão Maluco que chamamos de nosso universo. O que provavelmente é.
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PS.: O Josué está aqui teimando comigo que o resultado da equação é 0 (Zero) e não 1 (Um), ou que pode ser tanto 0 (Zero) quanto 1 (Um), dependendo do ponto de vista ou de quem tiver poder para fazer tal afirmação, ou até independentemente do ponto de vista ou de quem tiver poder para fazer tal afirmação, porque, retornando à física quântica, é mais sensato mesmo e até ponderado que o resultado seja ao mesmo tempo (e, claro, no mesmo espaço) 0 (Zero) e 1 (Um), o que não deixaria de ser só mais uma piada do emulador Peão Maluco que chamamos de nosso universo. O que provavelmente é.
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