Por Geraldo Lima
Presa
Penetrei-a com instrumento rombudo, ferro em brasa. Os movimentos do corpo: bruscos, violentos, quase desesperados. A presa, acuada: alguns gemidos — chorando pra dentro — e nenhum espasmo.
Descarte
Isso que você chama de amor não existe. Existe, sim, esse deserto aí, esta pedra, aquela poça de lama... Uma linguagem toda foi criada para nos enredar, nos deixar à deriva no mar de ilusões. Mas você crê. Contra a crença, nada se pode fazer. Cega, e esse homem arrastando-a para o abismo.
Cardume
Sento-me, pernas cruzadas, nesga de carne à mostra: a isca. O mínimo de reputação preservado. Se olhar para mim, fisgo-o — peixe graúdo em meio à miudeza. Deve se debater: o macho surpreendido em sua rotina de caça. Mas devo me manter firme, arrastando-o até aqui só com o arpão do olhar.