18 de fev. de 2010

Poesia, Beatriz Bajo

um branco espesso
por dentro do vidro
mão espalmada no vidro
ele batia com força
não batia pra sair
mas pra permanecer
grito mudo da mão
sem destreza
grito tênue da chuva sobre
os olhos que não lágrima
sobre o corte que o
ruído rabisca por dentro
desejo que não derrama
segredo sem desmanchar
entre as digitais que lambuzam
o vidro que não grita
que não murcha fora das
palavras
lavradas de forte impulso de
espalmar a porta
à tarde do sopro no dedo
ao pôr de todos os medos
cinzenta fome tida
coletiva
sonha franzina criança
sonha com as mãos
de pegar
sonha com as mãos de reter
sonha ser vista
sonha ver
resultada saliva
que não regurgita.
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abrolhos

todos os invólucros
são eternos inexplorados
todos os binóculos
... singelos inconformados
______ os lucros
... infernos caramelados
______ __ ósculos
... violoncelos famigerados
massa corrida
de
erguer as tendas
roer as máscaras
desenxergar
repetir as bocas
oferecidas
como as estrelas
por ninar
fiapos
imantar pedaços
bélicos
de beliscar
os pudicos invernos
invertidos
para
o mar
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Beatriz Bajo (São Paulo/SP, 1980) - Poeta, tradutora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ) e aluna especial do mestrado em Letras (UEL). Participou de antologias e mantém publicações em revistas literárias como Coyote e Polichinello e espaços virtuais como Portal Cronópios, Germina Literatura e Confraria do Vento. Traduziu o livro Respiración del laberinto, do poeta mexicano Mario Papasquiaro, pelo Coletivo Dulcinéia Catadora e trabalha atualmente com uma novela, também mexicana, pela editora LetraSelvagem. Seus livros estão no prelo, estréia com A face do fogo, que será publicado este ano pela Annablume (selo [e] editorial) e insiste em cultivar o blogue http://lindagraal.blogspot.com/. Morou por 17 anos no Rio (RJ) e vive há 3 em Londrina.
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