28 de mai. de 2023

Minireminiscencias #7


Por Glauco Mattoso

No ultimo dia 9, ao ouvir no radio a noticia da morte de Ritta Lee, só trez annos mais velha que eu, me debulhei todo. Ritta sempre foi aquella gotta de vitamina na veia da minha geração. Só dois momentos pessoaes. No theatro Zaccaro, depois do show, fui com o amigo Mario Alvarez ao camarim della, para deixar um exemplar de Maus modos do verbo. Na serra da Canthareira, o amigo Antonio Carlos Fonseca (do gruppo Somos) tinha um chalé vizinho ao della, que vinha ao alpendre jogar conversa fora com quem quizesse pappear. Fora disso, só tietagem de fan, como todos eramos. No caso masculino, pode-se discutir quem seria o maior nome do rock brazileiro. No caso feminino, não. E, como mulher, ella foi muito mais que rockeira. Foi pioneira. Revisito este poema do livro Boa morte, finado e outros poemas.

Sazonado? [9702]

Não, Glauco! Um premiado não precisa
provar, anno por anno, que tem merito
capaz de lhe valer outro trophéu!
Ganhou seu Jaboty? Seu Oceanos?
Ah, pode fazer merda, agora, com
totaes direitos, Glauco! Não concorda?
A Ritta Lee ja disse que é gostoso
a gente ser famoso para, à bessa,
dizer qualquer besteira por ahi!

Glauco Mattoso é paulistano de 1951. Nos annos 1970 editou o poezine Jornal dobrabil e destaccou-se entre os poetas "marginaes". Compoz mais de dez mil poemas ou de septe mil sonnettos e assignou mais de cem livros de poesia, trez romances (um delles em  verso), trez volumes de contos, alem de chronicas, ensaios, um tractado de versificação e um diccionario orthographico, este systematizando sua reacção esthetica às reformas  cacophoneticas soffridas pelo portuguez escripto. Mattoso perdeu a visão nos annos 1990 devido a um glaucoma congenito que lhe ensejou o pseudonymo litterario. Sua producção mais volumosa occorre appós a cegueira, graças a um computador fallante. Seus ebooks saem pelo sello Casa de Ferreiro e seu blog traz mais informação.