Por Glauco Mattoso
No ultimo
dia 9, ao ouvir no radio a noticia da morte de Ritta Lee, só trez annos mais
velha que eu, me debulhei todo. Ritta sempre foi aquella gotta de vitamina na
veia da minha geração. Só dois momentos pessoaes. No theatro Zaccaro, depois do
show, fui com o amigo Mario Alvarez ao camarim della, para deixar um exemplar
de Maus modos do verbo. Na serra da Canthareira, o amigo Antonio Carlos
Fonseca (do gruppo Somos) tinha um chalé vizinho ao della, que vinha ao
alpendre jogar conversa fora com quem quizesse pappear. Fora disso, só tietagem
de fan, como todos eramos. No caso masculino, pode-se discutir quem seria o
maior nome do rock brazileiro. No caso feminino, não. E, como mulher, ella foi
muito mais que rockeira. Foi pioneira. Revisito este poema do livro Boa
morte, finado e outros poemas.
Sazonado?
[9702]
Não, Glauco!
Um premiado não precisa
provar, anno
por anno, que tem merito
capaz de lhe
valer outro trophéu!
Ganhou seu
Jaboty? Seu Oceanos?
Ah, pode
fazer merda, agora, com
totaes
direitos, Glauco! Não concorda?
A Ritta Lee
ja disse que é gostoso
a gente ser
famoso para, à bessa,
dizer
qualquer besteira por ahi!
Glauco
Mattoso é
paulistano de 1951. Nos annos 1970 editou o poezine Jornal dobrabil e
destaccou-se entre os poetas "marginaes". Compoz mais de dez mil
poemas ou de septe mil sonnettos e assignou mais de cem livros de poesia, trez
romances (um delles em verso), trez
volumes de contos, alem de chronicas, ensaios, um tractado de versificação e um
diccionario orthographico, este systematizando sua reacção esthetica às
reformas cacophoneticas soffridas pelo
portuguez escripto. Mattoso perdeu a visão nos annos 1990 devido a um glaucoma
congenito que lhe ensejou o pseudonymo litterario. Sua producção mais volumosa
occorre appós a cegueira, graças a um computador fallante. Seus ebooks saem
pelo sello Casa de Ferreiro e seu blog traz mais
informação.