Por Cynthia Beatrice Costa
Fãs das narrativas de crimes reais têm hoje uma imensidão de fontes envolventes. Aqui estão algumas das melhores.
De onde vem essa
paixonite mórbida por ver/ouvir histórias de crimes reais? Já não chegam os
noticiários violentos de todos os dias?
Um estudo de 2010
realizado na Universidade de Illinois por Amanda M. Vicary e R. Chris Fraley
apontou algumas possíveis respostas para essas perguntas. Assassinatos sempre
fizeram parte da trajetória humana, e o fascínio que provocam também. Mulheres
tendem a se interessar mais por crimes reais porque se veem mais facilmente
como vítimas (embora sejam homens, segundo estatísticas, as vítimas mais
frequentes). A mídia, é claro, também desempenha um papel relevante, pois
reporta com afinco crimes inusitados e chocantes.
Segundo psicólogos, o
gosto pelas narrativas sanguinárias ou misteriosas ainda está relacionado à
nossa sede por clareza moral. É reconfortante saber quem é a vítima e nutrir
compaixão por ela. Ou, o que (convenhamos) é um tanto sádico, consolar-se com o
fato de que, ao contrário da vítima, você nunca se encontraria em tal situação.
Em última análise, o
prazer despertado por essas histórias não difere muito daquele que sentimos
diante de narrativas como um todo. Somos humanos, gostamos de contar e
compartilhar causos. Sendo assim, se você é um(a) legítimo(a) true crime
lover, pegue leve consigo. E aproveite as dicas.
1) Documentário: Pacto brutal: o assassinato de Daniella Perez (HBO Max)
Há três décadas, o
crime parou o país: uma nova estrela em ascensão, filha da autora da novela em
que atuava, foi morta por um colega de elenco. Rica em entrevistas e imagens, a
produção da HBO mergulha no passado e costura detalhes da atrocidade. Não busca
neutralidade, adotando claramente o ponto de vista da família e dos amigos da
vítima.
2) Livro: Columbine
(Editora Darkside)
O jornalista Dave Cullen
analisa minuciosamente o massacre escolar de Columbine, que aconteceu no
Colorado em 1999 e nunca mais saiu do imaginário coletivo.
3) Documentário: Cenas de um homicídio: uma família vizinha (Netflix)
O massacre das mulheres
(mãe e duas filhas pequenas) da família Watts causou e causa comoção mundo
afora desde sua ocorrência, em 2018. Há quem faça análises profundas da mente
do assassino, há quem culpe as vítimas, há quem procure razões. O documentário de
Jenny Popplewell, de 2020, beneficia-se do fato de a família ter filmado e
postado praticamente todo seu dia a dia em redes sociais.
4) Podcast: Interrompida:
o caso Araceli (Spotify, Apple)
Este é o trabalho de
conclusão do curso de jornalismo de Viviane Maciel, que cobre o terrível
assassinato da menina Araceli Cabrera Sánchez Crespo em quatro episódios. O
crime ocorrido em Vitória em 1973 nunca foi de fato resolvido, ainda que muitos
acreditem saber quem são os culpados e por que eles foram protegidos pela
polícia e pela Justiça.
5) Podcast: A
mulher da casa abandonada (Spotify, Apple, Deezer)
Este ficou célebre até
demais. Na série produzida pela Folha de S.Paulo, o apresentador Chico Felitti investiga
o passado de Margarida Bonetti, procurada pelo FBI e moradora de um casarão em
Higienópolis, em São Paulo, que virou ponto de encontro de curiosos após o
sucesso do podcast.
6) Documentário,
podcast e livro: O caso Evandro (Globoplay e Apple)
Em meio a uma onda de crianças
desaparecidas no Paraná, o menino Evandro sumiu em Guaratuba, no litoral
daquele estado, em 1992. Tanto o podcast e o livro de Ivan Mizanzuk quanto o
documentário dirigido por Michel Chevrand e Aly Muritiba enumeram erros graves
e até crimes ocorridos na investigação do desaparecimento – atribuído a um
ritual satânico.
7) Postagens
curtas: Aline Valentin (TikTok e Instagram)
Ser um bom contador de histórias é primordial para quem quer se
estabelecer no ambiente do true crime. Aline Valentin, que também se
dedica ao sobrenatural e se descreve como “apaixonada por coisas bizarras/de
terror”, foi agraciada com essa habilidade. Destaque para a sua cobertura da
recente chacina do DF.
8) Podcast: Praia
dos Ossos (Spotify)
Com foco no machismo e
nos erros que atravessaram o julgamento, a cuidadosa produção da Rádio Novelo retoma
o assassinato da socialite Ângela Diniz pelo então namorado Doca Street,
ocorrido em Búzios em 1976.
9) Podcast: Café,
crime e chocolate (Spotify, Apple, Orelo, Google e Amazon)
Narrada por Tatiana
Daignault, brasileira que mora nos Estados Unidos, a série já tem mais de uma
centena de episódios. O ponto forte é que Tatiana, com acesso a conteúdo em
inglês, parece se esmerar na pesquisa de cada crime e os relata de forma
organizada, levantando hipóteses e listando teorias.
Para fechar, o clássico sobre o extermínio da família Clutter, ocorrido
no Kansas em 1959. Com foco nos assassinos, Richard Hickock e Perry Smith, o “romance
de não ficção” (como foi divulgado) de 1966 elevou Capote à fama e ainda é
considerado um feito em matéria de jornalismo literário. Hoje a pretensa
objetividade de Capote é largamente questionada, mas isso não fere a proeza do
livro como história muito bem contada.
Bônus para quem sabe inglês
Livro: The Billionaire Murders: The Mysterious
Deaths of Barry and Honey Sherman (Editora Viking)
O bizarro assassinato
do casal Sherman no Canadá possui uma lista de suspeitos de dar inveja a Agatha
Christie. Da polícia à família, passando por um sem-número de inimigos dos
bilionários, todos parecem ter envolvimento. O autor Kevin Donovan empreendeu
uma investigação independente e detalhada do crime.
Podcast: Avery After Dark (TikTok, Spotify, Apple)
Avery Ross, a
apresentadora, é uma atriz estadunidense com um gosto especial por histórias de
mistério, inclusive envolvendo o sobrenatural. Carismática, ela não só tem
talento para narrativas, como também uma voz cadenciada e calmante.
Cynthia
Beatrice Costa é tradutora e professora do curso de Tradução da
Universidade Federal de Uberlândia, com pesquisa na área de tradução literária
e adaptação cinematográfica. Nascida em Osasco (SP), formou-se em Jornalismo
pela Cásper Líbero e trabalhou por mais de uma década como repórter de revistas
e editora de livros, enquanto foi se especializando ao longo das
pós-graduações. Sempre foi leitora voraz e cinéfila de carteirinha. Livro
preferido: Dom Casmurro. Filme preferido: Janela Indiscreta.