17 de mai. de 2023

10 dicas de 'true crime'

 Por Cynthia Beatrice Costa

Fãs das narrativas de crimes reais têm hoje uma imensidão de fontes envolventes. Aqui estão algumas das melhores.

De onde vem essa paixonite mórbida por ver/ouvir histórias de crimes reais? Já não chegam os noticiários violentos de todos os dias?

Um estudo de 2010 realizado na Universidade de Illinois por Amanda M. Vicary e R. Chris Fraley apontou algumas possíveis respostas para essas perguntas. Assassinatos sempre fizeram parte da trajetória humana, e o fascínio que provocam também. Mulheres tendem a se interessar mais por crimes reais porque se veem mais facilmente como vítimas (embora sejam homens, segundo estatísticas, as vítimas mais frequentes). A mídia, é claro, também desempenha um papel relevante, pois reporta com afinco crimes inusitados e chocantes.

Segundo psicólogos, o gosto pelas narrativas sanguinárias ou misteriosas ainda está relacionado à nossa sede por clareza moral. É reconfortante saber quem é a vítima e nutrir compaixão por ela. Ou, o que (convenhamos) é um tanto sádico, consolar-se com o fato de que, ao contrário da vítima, você nunca se encontraria em tal situação.

Em última análise, o prazer despertado por essas histórias não difere muito daquele que sentimos diante de narrativas como um todo. Somos humanos, gostamos de contar e compartilhar causos. Sendo assim, se você é um(a) legítimo(a) true crime lover, pegue leve consigo. E aproveite as dicas.

1) Documentário: Pacto brutal: o assassinato de Daniella Perez (HBO Max)

Há três décadas, o crime parou o país: uma nova estrela em ascensão, filha da autora da novela em que atuava, foi morta por um colega de elenco. Rica em entrevistas e imagens, a produção da HBO mergulha no passado e costura detalhes da atrocidade. Não busca neutralidade, adotando claramente o ponto de vista da família e dos amigos da vítima.

2) Livro: Columbine (Editora Darkside)

O jornalista Dave Cullen analisa minuciosamente o massacre escolar de Columbine, que aconteceu no Colorado em 1999 e nunca mais saiu do imaginário coletivo.


3) Documentário: Cenas de um homicídio: uma família vizinha (Netflix)

O massacre das mulheres (mãe e duas filhas pequenas) da família Watts causou e causa comoção mundo afora desde sua ocorrência, em 2018. Há quem faça análises profundas da mente do assassino, há quem culpe as vítimas, há quem procure razões. O documentário de Jenny Popplewell, de 2020, beneficia-se do fato de a família ter filmado e postado praticamente todo seu dia a dia em redes sociais.

4) Podcast: Interrompida: o caso Araceli (Spotify, Apple)

Este é o trabalho de conclusão do curso de jornalismo de Viviane Maciel, que cobre o terrível assassinato da menina Araceli Cabrera Sánchez Crespo em quatro episódios. O crime ocorrido em Vitória em 1973 nunca foi de fato resolvido, ainda que muitos acreditem saber quem são os culpados e por que eles foram protegidos pela polícia e pela Justiça.

5) Podcast: A mulher da casa abandonada (Spotify, Apple, Deezer)

Este ficou célebre até demais. Na série produzida pela Folha de S.Paulo, o apresentador Chico Felitti investiga o passado de Margarida Bonetti, procurada pelo FBI e moradora de um casarão em Higienópolis, em São Paulo, que virou ponto de encontro de curiosos após o sucesso do podcast.

6) Documentário, podcast e livro: O caso Evandro (Globoplay e Apple)

Em meio a uma onda de crianças desaparecidas no Paraná, o menino Evandro sumiu em Guaratuba, no litoral daquele estado, em 1992. Tanto o podcast e o livro de Ivan Mizanzuk quanto o documentário dirigido por Michel Chevrand e Aly Muritiba enumeram erros graves e até crimes ocorridos na investigação do desaparecimento – atribuído a um ritual satânico.

7) Postagens curtas: Aline Valentin (TikTok e Instagram)

Ser um bom contador de histórias é primordial para quem quer se estabelecer no ambiente do true crime. Aline Valentin, que também se dedica ao sobrenatural e se descreve como “apaixonada por coisas bizarras/de terror”, foi agraciada com essa habilidade. Destaque para a sua cobertura da recente chacina do DF.

8) Podcast: Praia dos Ossos (Spotify)

Com foco no machismo e nos erros que atravessaram o julgamento, a cuidadosa produção da Rádio Novelo retoma o assassinato da socialite Ângela Diniz pelo então namorado Doca Street, ocorrido em Búzios em 1976.

9) Podcast: Café, crime e chocolate (Spotify, Apple, Orelo, Google e Amazon)

Narrada por Tatiana Daignault, brasileira que mora nos Estados Unidos, a série já tem mais de uma centena de episódios. O ponto forte é que Tatiana, com acesso a conteúdo em inglês, parece se esmerar na pesquisa de cada crime e os relata de forma organizada, levantando hipóteses e listando teorias.



10) Livro: A sangue frio, de Truman Capote (Editora Companhia das Letras)

Para fechar, o clássico sobre o extermínio da família Clutter, ocorrido no Kansas em 1959. Com foco nos assassinos, Richard Hickock e Perry Smith, o “romance de não ficção” (como foi divulgado) de 1966 elevou Capote à fama e ainda é considerado um feito em matéria de jornalismo literário. Hoje a pretensa objetividade de Capote é largamente questionada, mas isso não fere a proeza do livro como história muito bem contada.

 

Bônus para quem sabe inglês

Livro: The Billionaire Murders: The Mysterious Deaths of Barry and Honey Sherman (Editora Viking)

O bizarro assassinato do casal Sherman no Canadá possui uma lista de suspeitos de dar inveja a Agatha Christie. Da polícia à família, passando por um sem-número de inimigos dos bilionários, todos parecem ter envolvimento. O autor Kevin Donovan empreendeu uma investigação independente e detalhada do crime.

Podcast: Avery After Dark (TikTok, Spotify, Apple)

Avery Ross, a apresentadora, é uma atriz estadunidense com um gosto especial por histórias de mistério, inclusive envolvendo o sobrenatural. Carismática, ela não só tem talento para narrativas, como também uma voz cadenciada e calmante. 


Cynthia Beatrice Costa é tradutora e professora do curso de Tradução da Universidade Federal de Uberlândia, com pesquisa na área de tradução literária e adaptação cinematográfica. Nascida em Osasco (SP), formou-se em Jornalismo pela Cásper Líbero e trabalhou por mais de uma década como repórter de revistas e editora de livros, enquanto foi se especializando ao longo das pós-graduações. Sempre foi leitora voraz e cinéfila de carteirinha. Livro preferido: Dom Casmurro. Filme preferido: Janela Indiscreta.