Por Rodrigo Ktarse
Viva
a literatura insurgente e combativa!
Como qualquer mano de quebrada, que não se submete aos condicionamentos de docilização dos corpos articulados pelos orquestradores do sistema capitalista, passei a compor o quadro de rebeldes insubmissos de quebrada, convivendo com tudo que as ruas de terra, becos e vielas têm a oferecer aos indesejáveis sociais. Mas para a infelicidade do sistema capitalista, a rua não só me mostrou o submundo da criminalidade e das drogas, mas também a psicologia das ruas e a filosofia do gueto, que, na adolescência, revolucionou minha forma de pensar a realidade violenta e cruel que nos dilacera cotidianamente. A realidade sangrenta que causa o morticínio dos debaixo, considerados descartáveis sociais para os opressores herdeiros da casa grande.
As
ruas me apresentaram a cultura hip hop, na qual pude conhecer os cinco
elementos desse movimento: Graffiti, DJ, MC, Break e o conhecimento político e
social dos debaixo. Passei a ser mais um integrante do movimento hip hop. Desde
então, sou mais um rimador insurgente dos guetos de Suzano.
Nessa
trajetória do rap, o que mais me atraiu foram as letras de rappers que
expressavam conteúdos políticos e contundentes em suas canções, como o grupo
Facção Central, entre tantas mensagens de críticas profundas ao sistema
capitalista, que esse grupo potencializa em seus raps, várias rimas do F.C me fizeram
pensar e refletir sobre a ilusão de acreditar em Deus, dentre tantas destaco a
seguinte: “No céu não tem Deus, só o Helicóptero da polícia descarregando a
traka no fugitivo da delegacia!”
Rodrigo Ktarse é integrante do grupo de rap Ktarse,
ativista da periferia e educador social em ONG voltada ao pop-rua. Morador da
Vila Fátima, bairro periférico de Suzano-SP, está na caminhada da cultura hip
hop desde meados de 1998. Além do Relatos de um rapero ateu de quebrada,
publicou o livro Inflamando pensamentos insurgentes no gueto. Fez parte
do grupo de rap Drama Realista (1998/2006). Com o grupo Ktarse desde 2007, atua
como rapero e compositor, tendo lançado os álbuns Gueto subversivo
(2011), Inflamando a insurgência (2017) e A luta é pela vida (2021), produzidos de forma autônoma e independente,
sem vínculos com gravadoras, distribuidoras e demais empresas da indústria
musical.