10 de jan. de 2023

Parece que somos todas madrastas

Por Clara Braga 

Cada vez mais tenho me deparado com textos de mães que falam sobre deixar a culpa de lado, olhar para si e entender que se elas não estiverem completas, não terão condições de cuidar de uma criança! A maternidade está cada vez menos relacionada a ser perfeita e mais relacionada a ser o que é possível ser. 

É difícil saber quando é hora de priorizar a criança e quando é hora de nos priorizarmos, afinal, o que o mundo espera das mães é que elas abram mão de tudo que são para serem um ser sem defeitos que vivem única e exclusivamente para os filhos. Logo, como não se sentir culpada quando a prioridade não é o filho? 

Acho curioso, quanto mais eu me informo sobre a maternidade mais eu vejo que toda a estrutura na qual estamos inseridas é feita para que a gente se sinta culpada! 

Outro dia, ouvindo a um podcast, uma mãe que é também madrasta estava explicando a origem dessa palavra que, inacreditavelmente, é definida como algo ruim pelo dicionário! Ela dizia que textos antigos, como dos Irmãos Grimm, não mostram uma mãe perfeita, que move montanhas pelos filhos. Pelo contrário, esses textos são inspirados em uma sociedade que chegava a sacrificar os próprios filhos por motivos diversos. 

Porém, houve um tempo em que a igreja impediu que essas histórias fossem contadas para crianças, pois mãe tinha que ser esse ser supremo, divino e puro, nada de mulheres que pensam em colocar os filhos em segundo plano! Então, para que as histórias pudessem ser contadas, foi criada a figura da madrasta, que nada mais é do que a mulher que carrega tudo aquilo que é visto como defeito e, por isso, não pode fazer parte da personalidade de uma mãe! 

Não sei se esse fato é conhecido por muitas pessoas, mas eu nunca tinha ouvido falar disso e fiquei em choque!  

A coisa fica ainda pior quando você pensa que mulheres que acolhem os filhos dos parceiros ganham esse título pejorativo, enquanto homens que acolhem os filhos de sua companheira são seres perfeitos, e suas companheiras tornam-se mulheres de muita sorte por poderem contar com um cara tão especial. 

Sinceramente, passou da hora de mudarem o significado da palavra madrasta, e isso não deveria ser de interesse apenas das madrastas, deveria ser algo de interesse de todas as mulheres, afinal, nenhuma de nós nasceu para ser santa, temos que ter orgulho de tudo que somos, inclusive do nosso lado “madrasta” de ser! 

 

Clara Braga de Oliveira e Silva, uma jovem mãe, já não é tão jovem escritora. Escreve no Coletivo Crônica do Dia desde 2010, aos 22 anos. Possui crônicas publicadas nas coletâneas Elas Escrevem, lançada em 2010 pela Editora Andross, Acaba Não mundo e Retire aqui a sua história, com textos do Coletivo Crônica do Dia.