Por Milton Rezende
Tecno-poema- Fala o poeta de vanguarda:
A estrutura do versoestá invertidaem meu caleidoscópio.Preciso de uma máquinarápida e perfeita parafazer uma circuncisão mental:
“Quero que a estrofegravada ao jeitodo vídeo cassetesaia nítida,sem um defeito”.
- Fala a crítica especializada:
A infra-estrutura do versoestá evoluídaem meu laboratório.Preciso de um computadorrarefeito e sem defeitopara efeito de análise poética:
“O crítico é um digitador,digita tão completamenteque chega a digitar a dor,a dor que sua mãe sente”.
- Fala o homem pensante:
A superestrutura dos acimaestá equivocadaem minha concepção histórica.Preciso de uma filosofiaautêntica e própria agorapara escrever um poema-amostra:
“A sombra projetada de um homemexclui o mecanismo da repetição alheia,pois a condição intrínseca dele mesmoexige que seu poema se faça de ideiase despreze a vida enquanto justificativapara o erro de se caminhar junto ao tempo”.
- Fala um observador imparcial:
Poesia significaabrir caminho para o abismoe pedir que nos devolvamo nosso sonho antiatômico.
O poema
necessita de um outro
poema
assim como o poeta
necessita
de uma con/vivência poética.
Os versos
não nascem do nada
assim, exclusivamente,
inspiração.
A noite
precede o sopro lírico
e ambos se integram
ao poema acabado.
O poeta,
este ser solitário,
desce das montanhas
de seus sonhos
para recolher os fragmentos
da realidade dos homens,
e com eles constrói no poema
necessita de um outro
poema
assim como o poeta
necessita
de uma con/vivência poética.
Os versos
não nascem do nada
assim, exclusivamente,
inspiração.
A noite
precede o sopro lírico
e ambos se integram
ao poema acabado.
O poeta,
este ser solitário,
desce das montanhas
de seus sonhos
para recolher os fragmentos
da realidade dos homens,
e com eles constrói no poema
uma unidade hipotética.
Do livro O Acaso das Manhãs (Edicon, 1986). Pedidos de
exemplares pelo e-mail coisasprobule@gmail.com. Preço R$ 20,00 + R$ 10,00
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