14 de out. de 2021

Sobre silêncios e solidões

Por Adrianna Alberti

Castelo

Eu escolhi meu castelo nas alturas, entre sorrisos de amigos que não estão mais no mesmo caminho e maldições familiares não tão rapidamente retiradas. Escolhi meu castelo no ar porque era o único lugar disponível e o tempo era curto. E era um pouco caótico. A vista na primeira noite foi aquilo que sedimentou o espaço no coração, o tom azul vibrante com os últimos resquícios do sol, uma única estrela no horizonte. Agora, deitada no escuro, ouvindo os morcegos e as corujas na mexeriqueira, me sinto pequena, em uma torre que, apesar das escadas, parece não haver saídas o suficiente. Eu adormeço exausta, sem forças para manter os olhos abertos. Sinto falta do chão.


As paredes brancas

Eu mantenho alguns sons, como o barulho do ventilador em rotação alta, apenas ruídos acolhedores para noites insones. Tenho um ninho em meu colchão, de cobertores e de travesseiros, me cercando como um abraço fantasma, fingindo que alguém me acolhe nos dias em que o cansaço não é o suficiente para me apagar. Conto baixinho minhas histórias para as paredes, repensado seus caminhos, refazendo suas vozes e me deixando levar em suas expressões, esperando que minha imaginação desgastada me leve para qualquer lugar. É em vão, em algum lugar entre a louça suja de uma semana e as três horas da madrugada, eu desisto.

 

Silêncio

O silêncio não tem gosto, foi o que decidi alguns meses depois, sozinha naquele quarto novamente. O silêncio tem gosto de calor sufocado, seco e excruciante, tem cheiro de saudade e uma lágrima de tristeza. Eu ainda o amo, o silêncio, no caso. Com todas as minhas, ainda o desejo, nos dias comuns, nas horas de trabalho, quando o tec-tec dos dedos em teclados me incomodam, quando os tons dos risos me irritam e a presença constante de pessoas estranhas me deprimem. Mas desejo aquele silêncio com gosto de luz do sol, de verde das plantas que sobrevivem apesar de mim, com um som morno na sola do pé. Está difícil separar silêncios de solidão.