27 de jan. de 2021

Réquiem para Adalberon

Por Cláudio B. Carlos

Cheguei, apeei do cavalo e lá estava ele, balançando, pendurado na velha figueira que como mão que protege, estendia os galhos sobre o rancho. O cusco me recebeu ganindo alvoroçadamente como que querendo me mostrar o dono enforcado. Galinhas, ao derredor da casa, ciscavam alheias. No fogão a lenha: uma chaleira com água e algumas brasas que preguiçosas se transformavam lentas em carvão. Depois da vala aberta o enrolei no poncho e o plantei próximo aos eucaliptos. Agora são duas cruzes ali: a da finada Dorvalina e a dele, onde depois de puxar pela memória algumas nênias, atei o lenço colorado. Montei a cavalo e a despacito fiz o trajeto inverso, trazendo comigo o peso do imenso vazio de quem perde um amigo. O cusco seguiu-me na modorra da tarde que se extinguia…