16 de nov. de 2020

Algumas mulheres na minha vida

Por Adrianna Alberti

Aquilo que nos une

Ela dominava perfeitamente três línguas, embora achasse constantemente que não. Tinha uns olhos brilhantes, como se estivesse deslumbrada com alguma novidade. A mente era obcecada por listas, planilhas, contagens, como se a vida pudesse ser resumida em estatísticas bem colocadas no papel. Eu me perdi entre a crítica feroz e impiedosa que saía de seu raciocínio e a inocência delicada de quem vive distante. Ela era toda um contraste: cores terrosas na roupa, voz suave no áudio, o suporte firme de quem acreditava que eu era alguma coisa, mas o desespero de quem se descontrola facilmente. Mas era roxa, e eu não tinha outros planos. 


Animais espirituais

Recordo o bar, lotado, o cheiro de cerveja e suor, o cabelo laranja que se destacava na multidão, sorrisos, apresentações e uma sensação quase automática de que ela era meu animal espiritual. Então, o vestido azul e branco combinava com as cores da fronha do meu travesseiro jogado na sala, as ondas alaranjadas e o braço nos olhos, enquanto arrastávamos nossos chifres: Esse apartamento possui telas para assegurar os gatos e contra a sofrência. O sorriso de sua conquista, enquanto eu a observava do sofá, como amor finalmente. Então já não éramos mais duas, mais três. E meu coração estava em paz.


Algoritmos da vida

Algum algoritmo a inseriu nas minhas indicações de amigos, linda, sorriso misterioso, um corte de cabelo que a deixava poderosa. Em outra rede social, eu a segui sem saber quem era, não ligando nomes, fotos, pessoas. E a admirava secretamente, como uma pessoa que eu nem sei quem é, mas de quem seria amiga. Até que um dia ela apareceu em carne e osso, braços dados com meu ex-namorado e eu tive certeza que toda admiração era justificada. E se eu descobrisse que no final das contas eu iria te conhecer, eu teria feito absolutamente tudo de novo, incluindo o sofrimento. Foi o que eu disse a ela, num dia qualquer, apenas porque eu podia.