11 de out. de 2020

‘Amor & Gelato’ – Uma história bem italiana

Por Iasmim Assunção

Amor & Gelato foi publicado no Brasil pela editora Intrínseca em julho de 2017. A autora, Jenna Evans Welch, passou sua adolescência na Itália, passeando de scooter e tomando mais gelato do que deveria. Hoje ela vive nos Estados Unidos, em Salt Lake City, com o marido e o filho.

O romance conta a história de Carolina, que fez uma promessa a sua falecida mãe de encontrar seu pai. Lina ainda está abalada com a morte da mãe e não fica nada feliz em deixar os Estados Unidos para morar com um cara estranho, ainda que fosse na Itália. No primeiro dia que passa em Florença, já quer ir embora. Howard, o cara estranho, é o administrador de um cemitério de soldados da Segunda Guerra Mundial que recebe constantes visitas, e morar em uma casa rodeada por túmulos não deixa Lina contente.

Assim que Carolina chega em sua nova moradia, a assistente de Howard, que também é uma antiga amiga da mãe de Lina, entrega um diário para a garota. O diário pertencia a mãe de Lina e conta a história da falecida mulher enquanto morou em Florença. Com relutância no início, Carolina embarca na aventura para saber mais sobre o que levou ao trágico final de sua mãe com o homem que amava.

Em uma de suas corridas matinais pela propriedade, Carolina conhece Ren, apelido para Lorenzo, seu vizinho que mora em uma casa de doces. Antes de receber o diário, Lina não estava interessada em aproveitar as belezas arquitetônicas, mas com o suporte de Ren, os dois vão recriando a trajetória da mãe de Carolina em Florença enquanto tentam desvendar as milhares de perguntas que surgem conforme leem o diário. Howard havia matriculado a garota na escola, no caso de ela querer ficar mais do que só um verão. É por isso que Ren já tinha ouvido sobre Lina, pois todos comentavam a chegada de uma nova garota na escola. Assim, Ren ajuda Lina a se enturmar com seus colegas de classe em festas de colegial italiano. Daí nasce uma amizade divertida entre Lina e Ren.

O livro também gira em torno dos dois possíveis pretendentes que dividem o coração de Lina, mas a parte do mistério sobre a mãe e a verdadeira paternidade de Carolina é mais interessante, pois conforme ela lê o diário, os leitores também leem fragmentos dele. Ren é um menino muito fofo e está sempre apoiando Lina, mas não há uma química significativa entre eles. Era uma boa amizade que foi arruinada com a necessidade de enfiar romance em tudo.

Ainda há Thomas, um intercambista britânico que emana “bad boy vibes” e tinha tudo para ser um dos melhores personagens, com seus cabelos escuros e olhos azuis. Lina descreve Thomas como o menino mais lindo que já vira, mas a conexão entre eles é ainda pior.

Enfim, trata-se de uma boa história, mas com uma protagonista fraca como personagem. Lina não é divertida ou sarcástica, não tem uma personalidade forte, mas também não é tímida e quietinha. Ela é uma protagonista que seria secundária em qualquer outra história. Apesar de termos que considerar a morte de sua mãe, Lina é bem insuportável. Não consegue ter uma conversa com Howard para perguntar sobre o passado dele e de sua mãe; na verdade, ela foge dessa conversa e apenas lê o diário porque tem medo de ser enganada por um estranho que – convenhamos – é o melhor personagem. Lina tira conclusões precipitadas por causa da escrita (aliás, não existiria história sem esse diário) e ignora o homem que foi simpático e compreensivo desde o começo.

Uma coisa realmente interessante no romance é o cenário, porque, quem não gostaria de ir para a Itália? Mesmo que seja apenas na imaginação... A descrição que Jenna faz sobre as artes, as histórias culturais e os monumentos de Florença faz qualquer leitor se sentir naquele país. Nunca fiquei com tanta vontade de comer pizza e tomar um gelato. Como o livro mesmo diz: as pessoas vão à Itália por vários motivos, mas ficam por dois: amor & gelato. O romance traz muito da culturaitaliana de Florença

Apesar de tudo, é um livro leve e rápido, e eu leria apenas para desvendar os questionamentos do passado da mãe de Carolina. Clichês jovens são clássicos por uma razão: a fórmula criada para eles funciona. Se uma autora de romance adolescente quer fugir dessa fórmula, deve pensar muito bem para fazê-lo funcionar.


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