Por Milton Rezende
Pânico da avenida I
Somos pessoas cansadas
e imóveis à
sombra de
um abrigo
sem folhas,
e o que nos
caracteriza
e ao mesmo
tempo nos
diferencia
das outras
espécies
aprisionadas,
é a nossa
dificuldade
quase
absoluta em sermos
felizes – como se
a felicidade
fosse um
passaporte
para a morte.
Pânico da avenida II
As situações de vida
em minha
ex-cidade
são como
fantasmas
no espelho
nostálgico
da minha
memória.
É o mesmo
que ausente
percorrer um
casarão
tombado pelo
patrimônio
e tombar
realmente, numa
queda surda
e repleta
do pó da
história.
Em minha
antiga rua
havia ao
menos rostos
antigos a
andar na rua.
E eu era um
deles
hoje sou
incógnita
e não me
reconheço
na paisagem
insólita.
À noite o
sono é vigília
nas figuras
das paredes
do meu
escritório.
Drummond,
Beatles e Lula
fixam-me de
suas molduras
enquanto eu
sonho estar longe.
Fora isso a
vida transcorre
inexorável
rumo ao seu desfecho.