Por Milton Rezende
Árvores
Há na rua uma árvore
cuja beleza
consiste
apenas em
existir e
estar ali,
ao vento.
Ela
simplesmente existe
e nos
transmite a mensagem
que
eventualmente quisermos
lhe atribuir
à distância.
Seu
discurso, para si mesma,
é a
propagação de sua sombra
na
coreografia de suas folhas
e sua
linguagem é a do silêncio.
Esta árvore
não diz nada
de coisa
nenhuma. A metafísica
está no
bêbado que lhe atribui
significados
além do estar-ali.
Aquela
árvore será sempre
(para aquém
e além dela mesma)
exclusivamente
árvore e isso
é tudo. O
mais é estar a vê-la.
Subitamente
um carro passa na rua
e arranca as
folhas da nossa árvore.
Como não
temos galhos para protestar
escancaramos
os dentes e voltamos
putos pra
casa.
Obstáculos
chega até
a vidraça
fechada
e observa
a chuva.
A chuva
chega até
o homem
fechado
e observa
a vidraça.
A vidraça
fica entre
universos
interpostos
e observa
a cena.
Do livro Inventário de sombras (Editora Multifoco). Exemplares esgotados.