20 de out. de 2012

Três poemas de Marco Cremasco


 Ser pedra

ser esta régua
que mede passos
sem conhecer medidas

ser essa coisa silenciosa
que guarda segredos
desvendando escritas

ser este esterco
disperso e bruto
que obra despedidas

ser este ser absurdo
que nada fez
metendo-se em tudo


Velho relógio

o tempo voa
não chora
por nada

exceto
o velho relógio
que permanece

sempre
na mesma hora

não tem ponteiros
somente marca

não tenha pressa


Pesca

a linha alcança
onde olhar descansa

na busca da paz
busca-se mais
do que o peixe

na ponta da linha
ninguém adivinha

o que virá
o que será
dessa pesca

o que se fisga
é a própria alma
de quem lança a isca


Marco Aurélio Cremasco nasceu em Guaraci, Paraná. Professor na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp. Publicou os livros de poemas Vampisales (Editora da Universidade Estadual de Maringá, 1984), Viola Caipira (edição do autor, Campinas, 1995), A Criação (Cone Sul, São Paulo, 1997; Prêmio Xerox e Revista Livro Aberto de Literatura) e fromIndiana (edição do autor, West Lafayette, EUA, 2000). Possui o romance Santo Reis da Luz Divina (2004; Prêmio Sesc de Literatura de 2003 e finalista do Prêmio Jabuti de 2005) e o livro de contos Histórias Prováveis (2007) editados pela Record (Rio de Janeiro). Em 2010 foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária para a escrita do romance Evangelho do Guayrá.