Por Daniel Lopes
Para Martin Heidegger
“As lágrimas de alegria que os mortos derramam pelo primeiro que não mais morre.”
Elias Canetti
No ventre da última mulher
Um óvulo sonha inútil
[Os homens já não são]
A última mulher pinta as unhas para o fim
& se maquia só para a morte
Não mais silêncios ante o Absurdo
Não mais desesperos ao pôr do sol
Não mais a morte devorando a vida que torna a nascer sem cessar
(Há um lago e o silêncio das águas)
A última mulher carrega o vácuo nas algibeiras
& fura os olhos de Deus
A última mulher assassina a própria morte com seu óvulo infecundo
& trava a roda do devir
Sobre a face das águas flutuam inúteis
Um piano branco
Um exemplar da Odisséia
Um par de luvas de boxe
Um pincel que pertencera a Paul Cézanne
A última mulher povoa a Possibilidade
& tranca
Com seus imensos cadeados
A porta de abertura do Ser.