Mais opiniões sinceras de Glenio Cabral (escritor) sobre Manicômio, de Rogers Silva >>>
"As imperfeições do nosso amor: um texto perturbador. Perturbador
porque é contraditório, repleto de antíteses em suas mais variadas formas. Não
há consenso em um único momento. Enquanto o lemos, somos levados de um lado para
o outro como um barco à deriva. Instintivamente, enquanto lia cantarolava
“Monte Castelo”, do Legião Urbana. Acho
que alguns textos naturalmente têm uma trilha sonora. O “cego-luz”, centro de todo o discurso, é o
pilar de onde saem todos os paradoxos. Tudo vai nele e sai dele. E sai como ele
é, distorcido, sem direção, uma bagunça. O texto é forte. O turbilhão de
palavras às vezes confunde. Mas também dá pra sentir a força de cada uma dessas
palavras, meticulosamente escolhidas. Parabéns pela escolha das palavras. As
palavras são o grande diferencial desse texto.
· Meus olhos verdes: piração, esse livro. Quando eu já vinha
me acostumando com as altas viagens, eis que me deparo com “Meus olhos verdes”.
Uma novela simples, uma história de amor, traição e surpresas. Como um conto
assim poderia estar presente em Manicômio?
A sensação que tive foi que eu vinha a 1.000 por hora, e de repente brequei.
Senti-me um pouco seguro, enfim. Pela primeira vez, sentia-me dono da situação.
Em todo o momento o leitor é inserido dentro da novela pelo narrador. Somos
apresentados aos personagens, aos seus dramas, aos seus ambientes. A narrativa
nos aproxima ao máximo de cada personagem. Eu posso dizer que os vi, não com a
força da minha imaginação, mas com a narrativa deste conto. Vi e me constrangi.
Constrangi-me diante dos dramas. Fiquei com raiva da Jéssica. Até agora não
entendi. E muito menos o Geisel. E o que parecia ser um conto simples e de
pouca profundidade, mexeu comigo. O conto é longo. Mas não cansa. Parei de
lê-lo algumas vezes, mas sempre desejando retornar à leitura. Ele fisga. Um
ótimo texto.
· Uma viagem estática: a grande surpresa do livro. Linguagem
simples, objetiva, fácil. Do jeito que eu gosto. Já li muitos livros de contos,
mas o recurso utilizado aqui como forma de observar a mesma situação numa outra
perspectiva foi nova pra mim. Muito criativo da parte do autor. A linguagem é
clara, as peças vão se encaixando e o quebra-cabeça se arrumando. Excelente
artifício.
· A última revolta de Jesus Cristo: um dos melhores textos do livro. O que
mais gostei foi do humor ácido extravasado nas últimas linhas. Sou um amante do
humor, e o final do conto foi de matar de rir. Rir em Manicômios? Pois é, mais
uma surpresa. Se bem que os loucos adoram gargalhar também. Parabéns pela tensa
abordagem psicológica do Filho de Deus. Como cristão, fiquei impressionado. E
chocado também. Seu texto me incomodou, devo admitir. Incomodou-me pela fé que
professo. Mas não a ponto de não admirá-lo pelo que ele é: uma divertidíssima e
ácida crítica à raça humana".
* Em breve, mais opiniões sinceras de outros leitores sinceros.
** O livro Manicômio será publicado em julho de 2012.