5 de fev. de 2012

Alçapão desassossegado

Por Munique Duarte

Eu não saberia explicar
Se eu colocasse todas as minhas certezas
No meio da palma de sua mão direita
Não ocupariam nem a minúscula metade
Que fase
Nós de ventos falsos
Nós de bermudas caminhando em solo cáustico
Eu não saberia entender
Se eu colocasse minha adoração aos seus pés
Não ocuparia nem meio cesto de lã da costura
Deixada pra trás em dia de chuva morna de verão
Remendos no roupão
Memórias calvas
Se eu cavasse minha esperança até o lençol d'água da sua cama
Não conseguiria força nem para a metade
É o vício do alcatrão
É a porta do alçapão desassossegado de ver ossos largados
da próxima vítima pelo gato
Quando dois viram três e mais um quarto olha, chega, opina, lima
Eu sei o quanto dói
Meu vício de incertezas
Se eu hoje colocasse meu colar de pérolas japonesas falsas
Você nem sorriria
A terceira pessoa daqui a pouco chega
A arapuca ficará desassossegada ao me ver ser gata
Largando ossos de ave silvestre pelo chão.

Munique Duarte. Nascida e vivendo em Santos Dumont-MG. É jornalista responsável das publicações dos sindicatos dos carteiros, dos vigilantes e dos auxiliares de ensino privado de Juiz de Fora-MG. Bloga em http://textosimperdoaveis.blogspot.com. Participa da obra “Escritos de Amor”, lançada pela Casa do Novo Autor Editora. Já colaborou n'O Bule, Sobrecapa Literal, Escrita Criativa (Portugal), Revista Diversos Afins, Jornal Opção e Jornal Relevo. Admiradora de Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles e Ferreira Gullar.