Por Édio Pullig
Segundo Agostinho de Hipona, “o mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa leem apenas uma página”. Talvez esta metáfora seja um dos eixos norteadores da jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho, que viajou para o Egito em janeiro de 2011 e presenciou a inédita experiência da revolução egípcia. Em outros palavras, a experiência de um povo que mudou o destino de um país, reacendendo, no século xxi, a chama revolucionária.
Em seu mais recente livro, Tahrir: os dias da revolução no Egito, Alexandra Lucas Coelho, por meio de uma escrita clara, fluente, acessível, capaz de fazer entender tantos os doutos quanto os leigos, nos faz “viajar para lugares que dificilmente iríamos”. É um belíssimo relato dos dias de fevereiro de 2011. Trata-se de uma narração de quem assistiu, de dentro da praça Tahrir, cenário principal da revolução, à derrubada de Hosni Mubarak. Como bem registrou a autora, foi “um triunfo do homem sobre si mesmo”.
O livro Tahrir pode ser entendido como a materialização, ou melhor, a transformação de uma ato otimista, e dotado de profunda coragem, em literatura. A publicação é uma prova contundente de que a literatura de língua portuguesa (hoje composta por uma multiplicidade de autores, desde angolanos até brasileiros, os quais destacamos Michel Laub, Valter Hugo Mãe e Gonçalo Tavares) está viva. É um grande convite para aqueles que se interessam pela produção literária contemporânea, seja ficcional, seja jornalística.
Édio Pullig é graduado em história e pós-graduando em editoração. Atualmente trabalha como assistente editorial no Rio de Janeiro.