22 de nov. de 2011

'Luz vermelha que se azula', de Nilto Maciel, em breve n'O BULE


(...) O equilíbrio está no talento de Nilto Maciel para amalgamar realidade e ficção. Munido de vasta bagagem de leituras e domínio das técnicas de construção do texto literário, ele percorre veredas diversas e, com seu apurado trabalho de linguagem, dá unidade ao que é diverso, puxa o leitor por caminhos inusitados e consegue, sem exauri-lo no longo percurso que se impõe da primeira à última página, prendê-lo espontaneamente ao universo de seres alucinados e fatigados de sua aventura existencial. Sem falseamento da realidade, mas sem exatamente copiá-la, ele fala, na maioria das vezes ironicamente, das feridas abertas de todos os seres extraviados que, de alguma forma, encontraram-se, encontram-se ou encontrar-se-ão a leste da morte.

(Aíla Sampaio)


Quanto à linguagem, Nilto Maciel nos oferece uma variedade de registros – que vai ao culto, passando pelo coloquial, o regional ao popular – tratados com uma eficiência literária admirável. O artista aqui faz a imitação, isto é, uma mimeses de linguagens, e não de natureza, como queria Aristóteles. A nomeação das coisas junta-se a uma cosmovisão própria de quem narra, recriando o autor, a partir da linguagem da personagem, o real. Sem afetações ou artificialismos que fazem, por sinal, a miséria literária de muitos escritores populistas, de um lado e, de outro, dos eruditos.

(F. S. Nascimento)


(...) Com uma prosa calcada na versatilidade, sua linguagem e seus personagens transitam num mundo em que realidade e ficção parecem ombrear-se numa fronteira tênue. Os absurdos, as imagens surrealistas, o variado signo de suas abordagens nos remetem aos barrocos e heterogêneos caminhos da história coletiva, pois delirantes situações e contingências são transplantadas do imaginário social, popular e dantesco, com a plasticidade literária que só um narrador arguto como Nilto Maciel é capaz de emprestar. Há uma articulação (in)tensa entre mundos mágicos, inauditos: figurações de uma emblemática busca daquelas inquietas províncias interiores que nossa infância alada deixou cravada como um punhalzinho sem ódio em nossas entranhas, vindo à tona estórias, “causos”, alegorias e mistérios qual uma meticulosa garimpagem nos sentidos.

(Ronaldo Cagiano)


(...) prova a versatilidade de Nilto Maciel em trabalhar assuntos aparentemente tão díspares, mas que no fundo convergem para a unificação de uma temática que se vem cristalizando como pano de fundo na elaboração da sua atividade ficcional, que é a capacidade de fundir a carnavalização do picaresco com a atmosfera do alegórico. Dentro dessa conceituação é que se enquadra, no meu entender, a maioria dos trabalhos de ficção de Nilto Maciel.

(Dimas Macedo)


(...) Nilto Maciel permanece fiel ao seu artesanato meticuloso. A cada livro publicado, verificam-se novas descobertas e uma outra luz se acendendo às possibilidades do leitor. E essa versatilidade do ato de contar histórias vai criando, ao mesmo tempo, uma atmosfera cada vez mais propícia àquele compromisso com a verdade e a beleza assumido desde os primeiros livros. E que faz do autor de Baturité um artista completo.

(João Carlos Taveira)


Tal versatilidade confere-lhe, sem dúvida, uma marca, que, partindo da temática, projeta-se já ao nível da linguagem, ao do “plot”, ao da alteridade e, finalmente, ao nível do ponto-de-vista do narrador. É a busca da diversidade na unidade. A invenção sob os diversos ângulos da narrativa. A tentativa, em última análise, de surpreender o real em suas múltiplas facetas. Daí, diga-se logo, o fascínio, o interesse que suas estórias provocam. Em uma palavra: a comunicação. Que, ao nível do leitor (vide os pressupostos da recentíssima “Estética da Recepção”), acaba de dar significado social e estético ao fenômeno literário. Como não poderia deixar de ser.

(Adriano Spínola)


Pois, além da grande versatilidade de temas e tramas e o virtuosismo do autor, com um excelente domínio de linguagem, todas as histórias apresentam um quê de insólito muito bem encaixado no desenvolvimento geral. São contos de feição quase sempre surrealista, expondo muitas vezes o que há de fantástico e absurdo nas situações vividas pelos personagens, bem como a reação destas.

(Fernando Py)


Nilto Maciel é, em verdade, um autor imprevisível, quase estilhaçante. Mas, ao mesmo tempo, humaníssimo e preso aos seus fantasmas conscientes e inconscientes, que latejam e volatilizam da alma e do coração de um artista com lugar de destaque e definido na literatura brasileira.

(Caio Porfírio Carneiro)


Muitas são as rupturas e brechas da crise atual pelas quais Nilto Maciel incursiona a fim de captar o universo em fragmentos que nos rodeia. Porém, ao manipular a complexa matéria prima de fatos e seres, o autor sempre se mantém com as rédeas nas mãos. Graças à notável consciência literária, faz de cada investida uma aventura lúcida, guiada pela sensibilidade e pelo domínio verbal.

(Astrid Cabral)


Importante assinalar essa capacidade de Nilto Maciel para criar realidades virtuais a partir dos materiais da ficção. Materiais que se encontram disponíveis na memória do narrador, ou nos subterrâneos do inconsciente coletivo, depositados no limo do id. Porque a ficção de Nilto Maciel é uma síntese de todas essas coisas, um périplo minucioso pelas zonas mais sombrias dos atavismos que emergem dos veios da linguagem e da própria condição humana. Seu discurso literário é o triunfo da expressividade sobre as estruturas lineares do idioma. O leito de um rio que deságua no “vasto abismo” da insignificância do homem.

(Francisco Carvalho)


>>> E no dia 25 de novembro, eis que estreia n'O BULE a série Luz vermelha que se azula, de Nilto Maciel. Não perca!