10 de nov. de 2011

e-Oficina para novos escritores: Em livraria ou fora de livraria?

Por Paula Cajaty

Essa pergunta, mal comparando, equivale àquela outra: "Casar na igreja, ou fora da igreja?"

A resposta depende, única e exclusivamente, de você e do seu contexto familiar, social, psicológico, etc.

Há quem case na Igreja, como o Príncipe William e a Duquesa de Windsor, porque simplesmente não haveria qualquer alternativa possível. E há quem case na Igreja, mesmo nunca tendo pisado numa delas (e seguido o rito completo de batismo, eucaristia, crisma, confirmação, missas, etc. etc.), pelo simples prazer de experimentar um pouco do glamour tradicionalista, assim como, por exemplo, a roqueira Avril Lavigne, surpreendendo tudo e todos, colocou véu e grinalda e abandonou o look-sujinho de cabelo desarrumado, os palavrões e olhos borrados de lápis e rímel, para seguir os protocolos sagrados do matrimônio.

Claro que, fora da livraria, você pode se divertir muito, já que serão mil opções disponíveis, especialmente se você estiver numa cidade grande: no Rio de Janeiro, desde uma festança no PinkFleet, do Eike Batista, até uma roda de chorinho na Lapa, ou uma feijoada numa quadra de escola de samba, vale tudo. No entanto, se você for daquele tipo que curte fazer as coisas comme-il-faut, a livraria será mesmo a opção mais recomendada.

Em tempos atrás, as livrarias de Shopping não contavam - era feio e esquisito lançar nelas. Elas eram algo mais próximo de uma banca de jornal, perto da saída para o estacionamento, como a Eldorado, a Siciliano. Hoje, a coisa mudou de figura, e entraram em campo as MegaStores de livros com seus espaços amplos para debates, mesas-redondas, apresentações multimídia com datashow, luzes e mesa de som. Sem contar que a facilidade do acesso e estacionamento deve ser considerada nas metrópoles.

Para agendar com livrarias, não há bicho-de-sete-cabeças. Antes de tudo, é importante pegar o contato da pessoa responsável pelos eventos, e ligar (ou mandar um email) informando da sua pretensão de lançar um livro e marcar a data. Se mais antigamente havia alguma restrição para lançamentos de livros no estilo "edição do autor", essa praxe já está perdendo o fôlego, considerando o interesse das livrarias em manter o fluxo constante de pessoas (e possíveis novos clientes) dentro de seus amplos espaços. Elas cedem a mesa, uma cadeira, som ambiente da loja de cds, e fornecem refrigerante e água para os convidados. O resto é com você: a decoração da vitrine, um bufê volante, bebidas, som especial e performance (se quiser uma leitura, um bate-papo, mesa-redonda, etc.).

Normalmente, as livrarias não cobram valores: somente o percentual da venda do livro. No entanto, ela vai querer que você coloque, no flyer do lançamento, a logomarca da livraria, e o seu nome como uma das anfitriãs do seu evento, ao lado do nome da editora.

Eu sei, você vai me perguntar: "mas, putz, sou eu quem tô pagando tudo, e eles que convidam?"

Novamente lembro da questão do casamento. Num casamento formal, os pais dos noivos são os anfitriões, ainda que os noivos estejam bancando a festa. Da mesma forma, se é a editora quem está produzindo em gráfica o convite, ainda que a conta esteja chegando todinha para você, ela colocará assim: "Editora X e Livraria Y convidam para o lançamento do novo livro de Fulano de Tal... "O nome do livro"). E não adianta espernear. É isso ou você pode abandonar a ideia e partir para reservar o Carioca da Gema.

Esse convite, na verdade, significa que a renda do seu livro será dividida da seguinte forma: "Editora X, que está levando 40% do preço de capa, e Livraria Y, que está levando 50% do preço de capa, toparam arriscar seus nomes lançando o livro do Fulano de Tal, que vai ganhar só 10% do fruto do seu trabalho e agradecer por isso."

Pode rir, eu sei, mas é assim (exceto, novamente, se você for o Paulo Coelho, Jô Soares ou Luciano Huck).

Há editoras que, para fugirem do percentual das livrarias, montaram espaços-lounge para o recebimento de convidados. Assim, elas só descontam o percentual delas, e deixam você usar o lounge para receber seus convidados, dentro da própria editora. Todos conhecerão a sede da editora, e consumirão num sistema de comanda. Dessa forma, a editora não divide com a livraria a renda do lançamento, e o bufê não vai sair do bolso de ninguém, mas apenas dos convidados, que também pagam pelo livro.

Ah, e você pode fazer um jantar na sua casa, com a venda do livro. O difícil é os convidados trazerem o dinheiro in cash para pagar pelo seu livro. Mesmo que ele só custe R$ 20. Na maior parte dos casos, as pessoas chegam em lugares, eventos e comemorações com uma nota de R$ 50 para qualquer emergência, e o cartão de crédito. Só gastarão a nota de R$ 50 em uma emergência, o que não é o caso da compra do seu livro, que pode ser feita "depois" (e aí você vai ouvir exaustivamente: "então, depois você me diz a livraria, que eu compro, hein?", e variações do mesmo tema).

Bem, para fazer num ambiente sem a máquina Cielo, há duas hipóteses: se você tiver um iPhone, com conta no PayPal, os seus convidados poderão pagar por seu livro apenas dando o número do cartão de crédito. E você pode embolsar 100% do preço de capa, dos livros da sua cota, ou dos livros editados por você mesmo. Beleza!

Mas, se não for assim, desista. Você não vai convencer ninguém a cair com dinheiro vivo.

Ainda há uma última hipótese: se o seu livro é um ebook e você quer fazer um lançamento de qualquer jeito.

Se o lançamento também for virtual, você pode fazê-lo nas redes sociais, como o Facebook, e nas outras em que você participe. Se você for lançar em outro lugar, então precisará trocar algo com o convidado. Seja um código de download, seja um cartão de presente com o crédito, ou até mesmo o livro impresso no sistema print-on-demand (POD).

Lembre-se que, como noivas planejando casamentos, escritores tendem a querer uma festa memorável, inesquecível, maravilhosa. Isso de perfeição não existe e você deve tomar cuidado para não se aborrecer além da conta, ou gastar mais do que deveria com uma festa que vai durar, no máximo 4 horas, e vai render, no máximo e com sorte (assim como a caixinha da gravata picotada), uns dois mil reais.

Mas - de novo, assim como em casamentos - só o tempo e a experiência vão te acostumar com isso.


>>> Leia o décimo texto da e-Oficina, Venda casada, AQUI.

Paula Cajaty - escritora, formada em Direito e em Publishing Management na FGV. Em parceria com sites, blogs, editoras e agências literárias, produz o Boletim Leituras para mais de 4 mil leitores, prestando serviços de leitura crítica, consultoria em marketing e produção editorial e literária através de seu site http://www.paulacajaty.com/ Autora de Afrodite in verso (7Letras, 2008) e Sexo, tempo e poesia (7Letras, 2010).