Por Paula Cajaty
Claro que um escritor já consagrado, não precisa ter absolutamente nada. Ele pode mandar a foto dele de chinelo, e escrever em um papel de pão, que isso será considerado arte e criatividade.
Quem providencia tudo para o autor consagrado é a Editora, seus designers, seus profissionais de maior especialização. No entanto, se você ainda não chegou lá, e está publicando via sistema de self-publishing, ou em antologias, ou mesmo se está estreando com um edição de custo compartilhado, então a dica é investir um pouco na sua imagem e reunir o seu material.
Isso dará a você duas coisas: primeiro, uma boa imagem perante o público, e segundo, uma boa imagem perante a editora, já que, se você investe dinheiro no seu trabalho, é porque acredita realmente nele.
Se você não investe grana ou tecnologia no seu trabalho, aí o público pode ter duas leituras: ou você é completamente pé-rapado, ou é antissocial e não tem nenhum amigo com alguma habilidade tecnológica, ou, o que é pior, simplesmente não está nem aí para o seu público. Neste último caso, ele devolverá isso exatamente na mesma moeda.
Assim, se você eventualmente for chamado para mandar uma minibiografia e uma foto sua em alta resolução para a entrevista com um jornal online, você vai mandar aquela foto que a(o) sua(seu) namorada(o) tirou de você na cozinha do apê, do lado da geladeira amarela?
Ou, então, na hora de escrever a sua cartinha para a editora, com o original pronto na espiral, você vai fazer a carta em um papel almaço, que vai chegar completamente mastigado na caixa de entrada da editora?
E, se sair uma entrevista sua em um jornal importante, como a Folha de São Paulo ou o Estadão, indicando a 'nova literatura contemporânea', e 'os jovens talentos' você simplesmente vai usar esse jornal para forrar a gaiola do seu papagaio?
Lembre-se, para um profissional que trabalha sozinho, organização é fundamental. E, se o dinheiro não sobrar, pelo menos faça um planejamento de gastos e utilize-os racionalmente.
Um cartão de visitas não custa a vida de ninguém, e pode ser feito no Zazzle.com.br, no Moo.com, ou na gráfica do seu bairro, com modelos pré-fornecidos. Uma linha de cartões tamanho 10x15, ou de papéis de carta coloridos, para endereçar carinhosamente um livro para um crítico ou editor, também pode ser comprada em qualquer Kalunga, Caçula, ou, se você estiver com caixa suficiente, na Papel Craft.
A fotografia é uma questão um pouco mais complicada. Nesse caso, sugiro uma prima adolescente ou uma amiga ou vizinha que goste de fotografar e tenha alguma habilidade com câmeras. Chame-a para tomar um sorvete em um parque, num dia de sol, e voilá! Divirta-se, tire algumas fotos, e depois ainda pode editar no Picasa, ou em um programa de edição online como Pixlr.com, Sumopaint, AdobePhotoshop Express, Picnik, Instagram, e outros (faça uma pesquisa, for God's sake!).
Para entrar para o mundo dos sites, um bom site em Wordpress ou Blogspot (mesmo usando template), não é vergonha alguma. É grátis e dá o mínimo de trabalho. Ainda que o seu objetivo não seja criar um blog, você pode fazer um site estático, apenas institucional, com fotos, textos, alguma biografia e formulário de contato, para leitores e editoras travarem algum relacionamento virtual contigo.
Bem, agora o jogo complica. Vídeos são relativamente caros, difíceis de fazer com um conhecimento básico de programação, e travadíssimos no PC. Isso significa muitas horas de dedicação para estudar o programa, e mais outras muitas horas dando RESET no seu computador congelado. O que, tiro por mim, é de deixar qualquer um com raiva do mundo inteiro.
Podcasts também custam caro e sobretudo dependem de estúdio. Você não vai ler um trecho lindo da sua poesia, com cachorros latindo, gatos miando, crianças chorando, vizinhos discutindo, rádios evangélicas como música de fundo e barulho de freadas de ônibus lá da rua. Nesse caso, é melhor nem tentar fazer algo amador, para não queimar sua imagem (a não ser que você esteja explorando o gênero humorístico, ou usando algum tipo de sarcasmo, ironia ou pilhéria, ou abuse do gênero trash-urbano na sua linha de trabalho literário).
Por fim, lembre-se de separar uma pasta no computador, e uma pasta física para você e seu trabalho literário. A pasta no computador concentrará todo o material digitalizado. Textos, revisões, fotos, imagens, pdfs, JPGs, mp3, mp4, Wmv, vídeos baixados do Youtube em que você apareça. Na pasta física, irão os jornais, os seus rascunhos, as suas anotações, flyers, convites de lançamento. Quando alguém te pedir isso, num momento crucial da sua vida profissional, você vai me agradecer, eu juro!
Para além disso tudo, claro, há os autores com cabelos colados na testa, pós-doutorados, filósofos, sociólogos, professores, ficcionistas, que andam de bermudas largas e meias frouxas, que consideram que o texto é o fundamental, que deve sobrepujar tudo, e que nada mais importa, nem mesmo o leitor, ou o editor. Amam a arte e o conteúdo como fim em si mesmo, e incompreendidos, despreocupam-se com a forma, e muito menos com a disseminação de suas ideias, frases, reflexões e mensagens.
Quando penso neles, lembro sempre que o legal da Literatura é justamente isso: cada um no seu quadrado.
E, como você já sabe qual é o seu tema (veja o item Visão da obra), então sabe muito bem como optar por um estilo. Assim, se você vai mexer com o gênero chic-lit, por exemplo, esse post é mais do que fun-da-men-tal!
Entre um conto e outro, uma poesia e outra, ou entre um capítulo e outro do seu romance, programe-se, planeje-se e organize-se.
Porque o próximo best-seller pode ser você.
>>> Leia o sétimo texto da e-Oficina, Despertar interesse, AQUI.
Paula Cajaty - escritora, formada em Direito e em Publishing Management na FGV. Em parceria com sites, blogs, editoras e agências literárias, produz o Boletim Leituras para mais de 4 mil leitores, prestando serviços de leitura crítica, consultoria em marketing e produção editorial e literária através de seu site http://www.paulacajaty.com/ Autora de Afrodite in verso (7Letras, 2008) e Sexo, tempo e poesia (7Letras, 2010).