21 de jul. de 2011

Naquela noite, num lugar distante de casa

(Ilustração: Gabrielas Pas)



Por Geraldo Lima

Quem nos contou essa história picante foi o Valdo. Depois do sexto copo de cerveja a língua fica solta e a imaginação dispara. No caso do Valdo, isso ocorre com certa frequência: ele é representante comercial, anda durante semanas pelo interior do país e sempre aparece com uma história envolvendo sexo e aventura, bem ao estilo dos antigos caixeiros-viajantes. Mas essa última que ele nos contou eu achei meio fantasiosa, exagerada, até meio sobrenatural, mas fiz de conta que acreditei. Fruto ou não da imaginação do nosso amigo, é uma história interessante. Gostaria de contá-la a vocês, mas sou um péssimo contador de histórias, me falta o essencial: fluência narrativa e boa memória. Não tenho o que se chama de dom. O que posso fazer aqui é tentar reproduzir, usando a própria voz do protagonista, tudo o que aconteceu naquela pensão no interior de Goiás. As falhas que porventura ocorrerem, por culpa da minha memória (já se passaram alguns meses desde que Valdo nos contou o sucedido), serão supridas, com certeza, pela imaginação do narrador-personagem.

Cheguei dos meus contatos comerciais, tomei um banho e desci para jantar. A pensão era pequena, mas bastante aconchegante. Havia umas cinco pessoas na sala, provavelmente em trânsito, assim como eu. Quatro homens e uma mulher. A mulher estava sozinha, sentada mais ao fundo, e tinha acabado de iniciar a refeição. Grudei os olhos nela, esperando que olhasse no meu rumo, mas a sacana só tinha olhos para o prato de comida. Não era bonita, mas parecia arrumadinha, cheirosa, quem sabe fosse uma diaba na cama, com certeza valia a pena arriscar uma aproximação. Talvez morasse na cidade, e aquela timidez toda fosse só medo de ser vista por conhecidos na companhia de um estranho. Imagine ficar falada numa cidade pequena, onde todos se conhecem! Mas aí me bateu uma ideia, fruto já da minha experiência de anos e anos como hóspede em hotéis e pensões do interior: vai ver era uma prostituta e ali, na pensão, que em tudo mostrava ser um ambiente familiar, evitava se expor, se mostrar como tal. Ia dar um jeito de descobrir o quarto onde estava acomodada e, assim que ela se recolhesse, eu ia lá pra tirar o atraso.

Estava tão entregue a maquinar um jeito de me aproximar da mulher, que nem me dei conta da presença de alguém me perguntando se já podia retirar o prato e os talheres. Foi aí, ao erguer os olhos para responder que sim, que me deparei com uma imagem inesquecível: dois seios redondinhos, maduros, de cor morena, exibindo-se no decote do vestido. A garota percebeu meus olhos devorando seus peitos, talvez intocados ainda, e perfilou-se séria. Eu me desconcertei por um instante. Disse-lhe que sim, que poderia retirar os talheres e o prato, ainda me perguntou, com ar bem profissional, se eu queria mais alguma coisa, sobremesa, café, disse-lhe que estava satisfeito, que não tomava café, parei de fumar e tomar café faz tempo, mas a moleca parecia nem ouvir o que eu estava dizendo, tal a pressa com que catou as coisas da mesa e se afastou. Mas juro pra vocês, antes de se afastar, vi que ela olhou pra mim com um olhar que abrangia todo o meu ser, um desses olhares que dizem mais que mil palavras, ainda mais quando acompanhados de um misterioso sorriso.

Fiquei por ali algum tempo, assistindo um pouco de TV, reparando nos hóspedes, na mulher de cabelo ruivo que ainda há pouco me atraíra tanto, mas que agora, depois da aparição da filha da dona da pensão, já me parecia desinteressante com sua aparente timidez. Deixei ela lá, diante da TV coletiva, atenta à novela, e subi para o meu quarto disposto a dormir cedo.

Rolei na cama. A imagem da garota não me deixava dormir. Teria quantos anos? Dei uns dezessete, não mais. Mas o corpo era de mulher feita, os peitos, a bunda volumosa dentro do vestido florido, a boca grande, uns lábios grossos, do tipo que mordemos com tara e sede de sangue. Mesmo assim, o melhor era esquecer. Talvez devesse ir atrás da ruiva. Lá na sala, por mais de uma vez, ela olhou para mim e pude notar que, aos poucos, sua aparente timidez ia se desfazendo. Devia ser só uma máscara. Uma puta, com certeza. Mas a imagem da garota não me deixava dormir nem ir atrás da outra fulana.

Depois de uma longa agonia, as pálpebras começaram a arriar. Aos poucos o sono ia chegando. Estava exausto de tanto usar a imaginação: já havia despido a garota várias vezes e comido ela ali, na cama, em todas as posições. Gozamos juntos mais de uma vez, com alarido e fogos de artifícios explodindo para toda a cidade ficar sabendo. No plano da realidade: ia acordar cedo, tomar o café da manhã, pegar o carro e o rumo de casa. Três semanas sem ver a esposa dava nisso.

Ouvi alguém bater de leve na porta. Quase num susto, me levantei só de cueca, me enrolei na coberta e fui atender.

É aqui, meus amigos, que a realidade, a fantasia e o sonho se encontram em perfeita harmonia. Eu fiquei besta, passado, e só tive impulso de abrir de vez a porta e dar passagem para a garota depois de transcorridos longos segundos.

Ela estava de camisola. Assim que chegou à parte mais iluminada do quarto, descobri que só vestia mesmo a camisola curta e transparente. Dava pra ver o tufo de pelos negros entre as coxas e a ponta dos peitos duros furando o tecido claro. Você está louca, se sua mãe sabe... Ela pôs a mão na minha boca, interrompendo meu discurso medroso e moralista. Bem compreensível, diga-se de passagem, para um senhor de quase quarenta anos de idade. Quantos anos você tem, menina?, ainda perguntei, dominado pelo receio de ser preso ou morto num lugar distante de casa. Dezenove, ela respondeu, e despiu-se da única peça de roupa que vestia. Bom, se tinha ou não dezenove anos de idade, pouco importava agora. Meus amigos, o corpo diante de mim era de uma mulher. E foi com aquela mulher que eu tombei na cama, chupando seus peitos e mordendo seus lábios com um excitação que há muito tempo eu não sentia. Desci lambendo sua barriga e estacionei entre suas coxas. Cada lambida que eu dava, metendo a língua por entre o tufo de pelos, tocando a carne úmida e quente, era um gemido que ela soltava. Não sem medo, imaginei que todos os hóspedes estavam ouvindo os seus gemidos e que logo a sua mãe bateria na porta querendo saber que safadeza era aquela, que ali era uma pensão de respeito, e, quando descobrisse que a autora daquele escândalo era a própria filha, botaria a porta abaixo e me cravaria uma faca nas costas. Vai, põe tudo dentro de mim, mete!, ouvi a danada dizer, não pode demorar muito, daqui a pouco minha mãe passa pra ver se tá tudo bem, ela faz a ronda todas as noites... Pus a camisinha (ando sempre prevenido, não quero expor minha mulher a nenhum risco) e atendi à sua voz rouca e trêmula: me enfiei até onde pude naquele buraco quente e úmido. O pau foi e voltou sem dificuldade alguma. Então bombei rápido para que tudo acabasse rápido. O pavor de ser surpreendido ali com aquela garota poderia arruinar a minha ereção. Gozei. Acho que ela gozou também. Levantou-se, pôs a camisola e saiu.

Terminei de tomar o café da manhã e fiquei esperando que ela viesse recolher a xícara, o pires e o copo, que viesse me envolver de novo com um olhar abrangente e um sorriso misterioso. Mas assim que ela passou em frente à minha mesa, indo atender ao chamado da mãe, fiquei desanimado. Vi que estava com uma cara enfezada, de quem havia dormido mal. Nem se penteara direito. Estremunhava ainda. Talvez detestasse levantar cedo para fazer aquele tipo de serviço. Por fim, aproximou-se com uma bandeja e, com o mesmo ar profissional do dia anterior, recolheu os objetos, limpou a mesa e, para meu espanto, se afastou sem me dirigir nem um bom-dia, sem perguntar se eu queria mais alguma coisa. Agiu como se não tivesse acontecido nada, absolutamente nada entre nós durante a noite.