Diante de mim, alguém que eu conhecia tanto e não compreendia mais. O longo silêncio, os olhos dizendo mais que a voz. A ausência das palavras, os sentidos gritando significados inalcançáveis.
Pois então que chorei, e chamei quem pudesse me atender. E vieram ratos, aranhas, todos chorosos mas convictos de que as coisas seriam assim. O fauno que me abraçou. Seres que eu não posso explicar, mas que sempre me foram caros e presentes.
— Porque a sua condição, filho, a dele, não pode ser alterada. A lógica do fim, o ciclo. A dor é necessária para compreender.
Raiva, impotência. As lágrimas que não vinham mais. O deserto, a solidão de ser.
— Por quê? — eu enfim perguntei. — Esse silêncio, essa falta?
Um pequeno gesto, a mão que me procurava. Abracei a sua mão não mais como filho, mas como pai. Queria segurá-la contra o peito, dar o meu calor. Feito Deus, trazer de volta à vida quem eu já sabia morto.
Mas Deus tem planos impiedosos, e exatos, e não se deixou convencer pelo meu coração.
Antes, porém, eu disse:
— Levanta daí, porra, que eu ainda tenho o que falar com você. Uma última conversa, ok? Lembra de mim?
Ele balançou a cabeça negativamente. Não conversava mais comigo. Eram outros, agora, os seus interlocutores.