24 de jun. de 2011

CorraAtrásDessesLivros (10ª edição)

Paulo Laurindo sugere >>>

Primeiras Histórias, de João Guimarães Rosa – causou-me surpresa por flagrar o autor em ensaios e exercícios que culminariam em Sagarana e Grande Sertão: Vereda. Encontrar logo no primeiro conto, As Margens da Alegria, uma metáfora tal como "Era uma viagem inventada no feliz" vemos que o autor não quer que entendamos as coisas com a razão somente mas que botemos o sentimento para vadiar e nos descubramos tão criadores quanto ele foi capaz.

Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino – com este livro percebi o valor da imagem. A imagem que nenhuma palavra define. Mesmo caçada, cercada, a imagem consegue escapar afinal não quer ser nomeada mas, sentida. Porque só o sentimento é capaz de gerar a verdadeira comunhão.

Obra Completa, de Murilo Rubião – os contos reunidos em Obra Completa, li por obrigação. Meu filho, em fase de produção de um curta em desenho animado d'O Ex-Mágico da Taberna Minhota, pediu-me impressões. Cumpri a tarefa com um imenso prazer. Em seus contos, fantasticamente elaborados, percebi que o objetivo de um autor é criar e construir um universo, tal qual uma criança ao brincar de faz-de-conta com serena liberdade e sobretudo, fidelidade ao próprio espírito do mistério que é a vida.

“O mundo é um eterno e deslumbrante mistério. E o sentimento é a imagem deste mistério. O sentimento é a imagem do mundo. A escrita não precisa expressar fidelidade ao mundo mas propiciar aos nossos espíritos o sentimento do mundo, esta particularidade peculiar de cada autor. Todo o resto é lambança!”

Paulo Laurindo é escritor. Nascido em Ilhéus, BA, percorreu brasis a colecionar poucas e boas. Foi moleque, ator, calculista e contador. Hoje pesquisa o mercado e não projeta tendência. Livros Publicados: - A História do Homem que Comeu o Próprio Corpo, uma tragédia para todas as idades, Maceió, Fundação Teatro Deodoro, 1994; O Reflexo e a Sombra, Poesias, Maceió, Editora Catavento, 1999. Para as horas de desvario, mantém o blog: www.certoscontosincertos.blogspot.com


Cris Linardi sugere >>>

A mulher desiludida, de Simone de Beauvoir – Não poderia escrever de outro livro, pois é o último que li. Não se passa incólume às histórias das três mulheres retratadas pela mulher de Jean-Paul Sartre. O cenário é desesperador. Ler as angústias que assolam o imaginário feminino desola; é como receber leves golpes à boca do estômago durante toda a leitura. Quando se é mulher e se é ciente da veracidade das narrativas a experiência se torna mais consistente e, por vezes, mais dolorosa. A primeira história é a da mulher que se depara com o auge de sua velhice, chegada sorrateiramente nos últimos anos. Revê sua relação com o marido e com o filho recém-casado, o qual demonstra claramente não ter mais a incontestável influência materna. A segunda, um monólogo, é terrivelmente angustiante. O monólogo quando escrito é libertador, mas talvez seu criador não o releia tamanha a agonia que o açoitou durante o processo. No entanto é bem interessante acompanhar os pensamentos depreciativos de uma mulher à beira de um ataque de nervos após o suicídio de sua filha. Por fim, as memórias contadas num diário e que dão nome ao livro, trazem o cenário assolador de uma mulher que descobre mentiras por trás de verdades interpretadas pelas pessoas que julgava mais confiáveis. O que é interessante nesta última história é que o leitor se encontra na personagem de uma forma simbiótica e muito densa, o que esmaga-o. Eu particularmente precisei cessar a leitura por algumas horas, desolada, mas confesso que a digeri de um só golpe. Todas são acompanhadas da beleza melancólica de Paris, aos olhos da depressão feminina. Só há uma ressalva: é importante ter preparo emocional.

Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis – Me uno aos adoradores deste livro inesquecível. Não tem a ver com sua importância para nossa literatura, tem a ver com minha experiência de leitura. A ideia da história póstuma é diabolicamente atraente, apesar de sua narrativa aparentemente inocente aos olhos do leitor contemporâneo e talvez desavisado. Continua sendo uma história inteligente, instigante, que faz o leitor devorá-la tal qual o verme exaltado em seu início: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas".

Cristina Linardi é uma mulher balzaquiana que hoje pensa saber fazer alguma coisa com as letras que lhe pingam nas mãos. Escritora de meia sombra, brinca de fazer poesia sem resultado muito proveitoso. Fã de joguetes, se esconde em entrelinhas, metáforas e seus derivados. Atualmente brinca de cantar e se aventura numa banda de rock do interior paulista. Tem um sítio virtual onde expõe um pouco do seu trabalho: http://cristinalinardi.com


Ricardo Novais sugere >>>

O nome da rosa, de Umberto Eco – livro instigante. A partir de um manuscrito, o autor traça uma história sofisticada e remete magistralmente o leitor à vida num convento medieval. Mistério e reflexões filosóficas permeiam o enredo, o tempo todo. Um clássico entre clássicos da literatura universal.

Cândido ou o Otimismo, de Voltaire – a obra é fascinante. Um dos livros mais irônicos que se tem notícia em toda a história da literatura. Voltaire não é um autor comum, ri da própria cultura e inteligência. A vida não é tão boa quanto parece ser, mas também não é tão ruim.

Sangue de Coca-Cola, de Roberto Drummond – este autor mineiro é um dos maiores nomes da literatura brasileira. Ele escreveu este livro com raiva, embora o deboche se impregne por todas as páginas, como não poderia deixar de ser. Paralelamente a tudo, o leitor perceberá ao ler este livro o quão terrível foi um dos períodos mais nebulosos e sombrios da nossa sociedade: a ditadura militar. Alguns terão boa medida da época passada com esta obra, outros a reviverão.

Ricardo Novais é colunista deste coletivo literário.