9 de mai. de 2011

e-Oficina para novos escritores: E foi dada a largada: o seu original dentro das editoras

Por Paula Cajaty


Se você não optou por uma leitura crítica ou consultoria literária, e decidiu fazer um voo sozinho, é hora de montar a versão final impressa e espiralada. Claro que ela também deverá ser relida pela última vez (sim, eu sei que você não aguenta mais) antes do início da distribuição do original para as editoras. Entre todas essas leituras, o ideal é que haja algum tempo de espera, de alguns dias ou até semanas, para que os olhos se desacostumem do conteúdo e possam estar menos viciados com as releituras. Se você contratou ou não um copidesque, pode ficar tranquilo: seu livro será novamente revisado pelas pessoas treinadas para esse trabalho minucioso no âmbito da editora. Mas, como você deve imaginar, quanto menos erros o texto apresentar, melhor.


Não custa lembrar que há preparadores que reformulam o conteúdo do texto sem sequer informar ao escritor sobre as alterações realizadas. Apesar de muitos autores ficarem extremamente irritados com essa prática, nada se há de fazer. É que o contrato de edição pode admitir tais modificações e, além disso, os prazos exíguos da editora justificam a possível ausência de comunicação adequada com os tantos autores contratados (lembre-se que o bom relacionamento costuma ser o forte das editoras menores, enquanto as grandes ganham no marketing, divulgação e distribuição).

A regra, no entanto, é que escritor e editora tenham um contato aberto, transparente e frequente durante todo o processo de publicação, lançamento e pós-lançamento. Não se deve esquecer que esse é um relacionamento que perdura por um longo tempo. Na editora, se o seu original for aceito para publicação, o pacote é de duas revisões antes do envio do original diagramado para a gráfica.


Um caso interessante é o que acontecia com o escritor português José Saramago. Ele dizia abertamente que tinha medo dos revisores, seres com "olhos de falcão" e "atados de pés e mãos por um conjunto de proibições mais severas que um código penal". Por isso, não permitia revisões em seu texto, por medo de que lhe alterassem o sentido (in Sobre gramáticos e revisores, por Rubem Alves, disponível no Blog do Galeno: http://novasvisoes.com.br/fernandotorres/2009/01/sobre-gramaticos-e-revisores-rubem-alves/)


Assim, quando o preparador ou revisor da editora avançar o sinal vermelho, alterando conteúdos e sensações que o escritor pretende transmitir, este último deve exigir fidelidade ao seu original, de forma que sua obra não se desfigure e seu estilo não se pasteurize.


É importante ficar atento ao fato de que cada editora possui regras próprias para a aceitação dos originais, especialmente quando se fala de livro técnico ou universitário, que seguem normas padronizadas de apresentação. Portanto, é preciso conferir tais informações no site da editora que receberá o livro ou, no caso em que a editora não disponha dessa informação em meio virtual ou mesmo não possua site, no mínimo pode-se ligar para o telefone da editora e pedir informações ao atendente sobre como proceder no envio do original. Então, depois de depositado o envelope na sede da editora, nada mais resta senão esperar - e esperar é bem complicado.


Essa fase é bastante angustiante, pois normalmente o escritor fica sem saber o que faz enquanto aguarda o "sim" da editora - que pode chegar como um "não" dali a 6 meses, ou 1 ano, ou ainda pior: nem chegar. Aproveitar esse momento de relaxamento, depois do trabalho intenso com o livro, é uma das melhores saídas. Até porque a intensidade do trabalho até então desenvolvido nem se compara com o que acontece nas fases posteriores à concordância com a publicação da obra.


Se o escritor sentir muita necessidade, não é pecado fazer um follow-up, isto é, telefonar ou ir à sede da editora para tentar acompanhar o trâmite de seu original. Claro, o original é identificado, numerado e caminha dentro das diversas instâncias da editora como um processo anda na Justiça: lentamente, e com possibilidade real de extravio. Muito trabalho, muita gente mexendo, muito papel: uma editora é muito semelhante a um cartório e, assim, os problemas também se assemelham. Impossível dizer se o follow-up, desde que feito corretamente e sem abusos (nada de ligar diariamente!), é bem aceito ou não pelas diferentes empresas. Sempre se deve ter muito cuidado para não cair no ridículo, ou para não se tornar "o escritor-chato que liga toda segunda-feira para saber da apreciação do seu original".


Se de um lado, perguntar sobre o trabalho demonstra interesse, de outro, pode evidenciar ansiedade e imaturidade. Vale pesar bem as duas opções e verificar qual delas é a melhor saída para atenuar as sensações que se abatem sem misericórdia sobre o escritor (e principalmente, sobre um poeta) nesse momento crítico de espera. Mas existe um antídoto para suavizar essas tormentas. Portanto, não se deixe abater enquanto o telefone não tocar.


Você está se perguntando: e então, qual é o antídoto? Ele se resume a simplesmente dar sequência ao trabalho. Se isso serve para dor-de-cotovelo, também serve para autor em regime de latência. Despachado o seu original, nos correios ou no balcão da editora, a hora é de continuar a investir no seu projeto inicial, justamente aquele que foi traçado antes da ideia para o primeiro livro: a sua transformação em um verdadeiro escritor. E isso, meu amigo, não é pouca coisa.


Como a peixinha Dory, do filme Procurando Nemo, é preciso que você não se esqueça: "continue a nadar, continue a nadar..."


>>> Leia o quinto texto da e-Oficina, Preparação de originais: quer pagar quanto?, AQUI


Paula Cajaty - escritora, formada em Direito e em Publishing Management na FGV. Em parceria com sites, blogs, editoras e agências literárias, produz o Boletim Leituras para mais de 4 mil leitores, prestando serviços de leitura crítica, consultoria em marketing e produção editorial e literária através de seu sitehttp://www.paulacajaty.com/ Autora de Afrodite in verso (7Letras, 2008) e Sexo, tempo e poesia (7Letras, 2010).