Por Bruna Mitrano
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Orgulho
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Abaixo a cabeça, o sangue pinga na letra redonda (a tal carta). Borra vermelha sobre fundo falso, minha tela mais viva.
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Inveja
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O desgraçado tão calmamente lambe o próprio saco, depois levanta os olhos pra mim como se me desafiasse a fazer o mesmo. Mas eu, que, apesar de curvo, mal consigo olhar pra baixo sem sentir a nuca retrair, perdi de vista o meu, esquecido entre os pelos longos e embaraçados, sobre os quais descansa um pedaço de carne flácida, meu pau indolente. “Cachorro filho da puta, sabe como humilhar um velho”, digo rosnando, minha boca salivosa.
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Ira
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Ela enrosca um fio de cabelo no meu mindinho. O fio ruivo faz um torniquete no meu dedo. Ela me quer mutilado, ela me quer incompleto.
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Indolência
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Afundo as unhas nas minhas coxas e arranco um pedaço da casca dura que brotou sobre minha pele. Surgem pontos vermelhos que crescem. Vejo pouco. Meus olhos foram abraçados por véus de poeira. Mas os pontos vermelhos crescem, na carne branca que, antes, escondia-se sob a casca.
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Avareza
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“Não dou”, ela diz.
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Gula
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Nunca passei fome, mas é como se passasse. Esconda essa nuca melada de suor, ou sua cabeça penderá sem metade do alicerce.
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Luxúria
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Não acreditava no papo engana-trouxa de amor sem sexo. Era uma mulher e tudo o que queria era ser vista como tal. Foi por isso que ela empinou o tronco e, com o dedo indicador como um pêndulo inverso disrítmico na direção do nariz dele, encheu a boca para dizer:— não preciso de um homem que me ame
----------[pausa]
--------------------preciso de um homem que me coma com vontade.
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Bruna Mitrano - Tem 24 anos e mora no "velho oeste carioca". Trabalhou tanto em micropaleontologia como em alfabetização de idosos. Hoje não faz muita coisa além de ler, ouvir música e observar pessoas desconhecidas.
Teima em manter o http://www.deliriolilas.blogspot.com/. Ah: e nunca publicou um livro.
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Orgulho
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Abaixo a cabeça, o sangue pinga na letra redonda (a tal carta). Borra vermelha sobre fundo falso, minha tela mais viva.
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Inveja
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O desgraçado tão calmamente lambe o próprio saco, depois levanta os olhos pra mim como se me desafiasse a fazer o mesmo. Mas eu, que, apesar de curvo, mal consigo olhar pra baixo sem sentir a nuca retrair, perdi de vista o meu, esquecido entre os pelos longos e embaraçados, sobre os quais descansa um pedaço de carne flácida, meu pau indolente. “Cachorro filho da puta, sabe como humilhar um velho”, digo rosnando, minha boca salivosa.
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Ira
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Ela enrosca um fio de cabelo no meu mindinho. O fio ruivo faz um torniquete no meu dedo. Ela me quer mutilado, ela me quer incompleto.
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Indolência
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Afundo as unhas nas minhas coxas e arranco um pedaço da casca dura que brotou sobre minha pele. Surgem pontos vermelhos que crescem. Vejo pouco. Meus olhos foram abraçados por véus de poeira. Mas os pontos vermelhos crescem, na carne branca que, antes, escondia-se sob a casca.
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Avareza
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“Não dou”, ela diz.
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Gula
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Nunca passei fome, mas é como se passasse. Esconda essa nuca melada de suor, ou sua cabeça penderá sem metade do alicerce.
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Luxúria
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Não acreditava no papo engana-trouxa de amor sem sexo. Era uma mulher e tudo o que queria era ser vista como tal. Foi por isso que ela empinou o tronco e, com o dedo indicador como um pêndulo inverso disrítmico na direção do nariz dele, encheu a boca para dizer:— não preciso de um homem que me ame
----------[pausa]
--------------------preciso de um homem que me coma com vontade.
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Bruna Mitrano - Tem 24 anos e mora no "velho oeste carioca". Trabalhou tanto em micropaleontologia como em alfabetização de idosos. Hoje não faz muita coisa além de ler, ouvir música e observar pessoas desconhecidas.
Teima em manter o http://www.deliriolilas.blogspot.com/. Ah: e nunca publicou um livro.