26 de jun. de 2010

Três breves

Por Larissa Pinto Marques Braga
-
quase Hemingway
-
isso foi só no começo, enquanto escrevia os oito capítulos iniciais. eram sensações ruins, não sabia bem se era ficção ou romance. alucinada, vomitava um monte de palavrões. dizia: "Carlos, continue batendo!". e ele respondia: "comprei botas novas!". depois de boas surras eu fumava um pouco, esmurrava a porta do mobilhado e caía no sono. aquelas coisas continuavam brotando da minha boca, a violência era atraente para nossos corações atormentados. ele era parecido com Hemingway, quem sabe um pouco melhor. abri a gaveta do meio e puxei o porrete, guardado embaixo das calcinhas e bati nele com toda força, “enfia no rabo, com querosene e coloque fogo, honey!”
-
livros
-
não recebi nada nos dois últimos meses, por não entregar duzentas páginas como o combinado, estava atrasada. no décimo capítulo não dariam o emprego a Carlos com a cara estourada, ela trabalhava muito, ganhava pouco e estavam na lona. beberam a garrafa de vodca em grandes goles. ela vomitou a manhã toda, quando melhorou escolheu seus melhores títulos e vendeu para um sebo. garantiu jantar e bebida naquela noite.
-
amor
-
serviu-me a flor como prato principal. ensinou-me arrancar pétala por pétala até chegar ao coração. esse sim, era iguaria fina desconhecida ao meu paladar que aprendi a degustar e salgar por suas mãos teatrais. no décimo terceiro capítulo, ela descobriu que a alcachofra não é flor e sim inflorescência, como o abacaxi. juntou os papéis de seu último pretenso livro e os jogou pela janela, rindo! um copo com uísque, não em grande dose mas o suficiente para fazê-la dormir.
-
Larissa Pinto Marques Braga é editora, escritora, artista plástica, autodidata; nasceu em 1974, na cidade de Itumbiara, interior de Goiás, residente em Sobradinho, Distrito Federal. Autora dos livros Entre o negro e o nada, Infernos Íntimos e O oco e o homem.