2 de jun. de 2010

Entrevista com Italo Moriconi - Aperitivos


"Caro Claudio, gostei da expressão 'ser considerado'. 'Ser considerado' significa que nem sempre aquilo que vêem na gente é a expressão da verdade. Eu não era considerado marginal nos anos 70. Minha relação com a turma dos que hoje são chamados de poetas marginais era muito oblíqua".

"Eu não tenho problemas que classifiquem minha poesia como gay. Certamente, não a escrevo pensando nisso, pois embora eu seja totalmente a favor do movimento gay/lésbico e da luta pelos direitos gay/lésbicos, me situo de maneira muito hesitante e ambígua em relação a toda e qualquer reivindicação de identidade".

"O Piva e o Kavafis celebram o amor dos homens maduros pelos rapazes mais jovens, já o que me agrada em Whitman é que ele fala do amor entre homens feitos, homens maduros, trabalhadores. Mas o Kavafis eu gosto ainda mais do que do Piva, porque fala do ponto de vista do cara que está envelhecendo, gosto do tom nostálgico do homoerotismo dele".

"...não considero que a sodomia seja pecaminosa e muito menos anormal, por isso eu faria humor com este tema de outra forma, não como vergonha ou estigma, e sim como pulsão orgiástica".

"Os contos de Primeiras Estórias estão realmente entre os melhores de todos os tempos, em matéria de literatura brasileira e mesmo universal. No entanto, meu Guimarães Rosa preferido é o das narrativas mais longas, particularmente das novelas de Corpo de Baile, que tenho em altíssima conta, sem desmerecer, claro, Grande Sertão: Veredas".

"A arte é a coisa mais maravilhosa que existe na vida, depois, claro, da experiência erótica e da alegria de conviver com amigos e familiares. Aliás, são três esferas da vida que se complementam e que se energizam uma à outra".

"...quando a crítica é crítica, no sentido de restritiva ou negativa, vem em geral escrita em termos de ressentimento e até de incivilidade. Acho que falta humor às críticas negativas. Uma crítica negativa tem que ser bem-humorada, tem que deixar espaço para uma certa leveza".

"Ganhei dinheiro, mas não muito. Nada que pudesse me levar a abandonar meu salário de professor. Sou organizador, portanto o que recebo como royalties é uma parcela ínfima do que recebe um autor".