Por Geraldo Lima
Noir
Desceu a escadinha tateando no escuro. Loucura aquilo. Uma porta carcomida lhe deu passagem, quase tombando de lado. No centro do cômodo, sentado numa cadeira, cigarro aceso, um homem a aguardava. Sorriu assim que a viu. Vem cá, meu anjo, vem. Ela avançou se despindo. Embaixo de uma lâmpada oscilante, empoeirada, fizeram amor como se fosse a primeira vez.
.
Aqui só há o inferno. Vestígios de céu? Nenhum. A gente avança é no escuro, sempre, sempre. A alma mais pura, uma vez aqui, não resiste aos apelos do lodo. Esse aí, ainda com cara de anjo, ontem mesmo, por uma coisinha de nada, abriu uma fenda no peito de um. Eu, que já vi o absurdo, ainda agora estou pasmo, sem crer. Um anjo varrido pela crueldade.
Sei que vai se agarrar nas minhas pernas me pedindo pra ficar. Por enquanto tá lá na cozinha, deixando cair panelas, talheres... Quer me fazer ouvir o seu desespero. Não pode viver sem mim. Mas minha mente já não está mais aqui, que posso fazer? Fecho a porta, ouvindo ainda os seus gemidos de dor. Melhor assim. Teria sido ridículo vê-lo atirando-se aos meus pés.
Noir
Desceu a escadinha tateando no escuro. Loucura aquilo. Uma porta carcomida lhe deu passagem, quase tombando de lado. No centro do cômodo, sentado numa cadeira, cigarro aceso, um homem a aguardava. Sorriu assim que a viu. Vem cá, meu anjo, vem. Ela avançou se despindo. Embaixo de uma lâmpada oscilante, empoeirada, fizeram amor como se fosse a primeira vez.
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Antro
Aqui só há o inferno. Vestígios de céu? Nenhum. A gente avança é no escuro, sempre, sempre. A alma mais pura, uma vez aqui, não resiste aos apelos do lodo. Esse aí, ainda com cara de anjo, ontem mesmo, por uma coisinha de nada, abriu uma fenda no peito de um. Eu, que já vi o absurdo, ainda agora estou pasmo, sem crer. Um anjo varrido pela crueldade.
Ana
Sei que vai se agarrar nas minhas pernas me pedindo pra ficar. Por enquanto tá lá na cozinha, deixando cair panelas, talheres... Quer me fazer ouvir o seu desespero. Não pode viver sem mim. Mas minha mente já não está mais aqui, que posso fazer? Fecho a porta, ouvindo ainda os seus gemidos de dor. Melhor assim. Teria sido ridículo vê-lo atirando-se aos meus pés.